A amante nunca ten dentes postizos
graus no nariz
pelos nas coxas
gorduras nos cadrís.
Á amante nunca lle inchan os ollos ao dormir.
O poeta ama a perfección
non te ama a ti.
Es idealización
mito
metáfora da metáfora.
De non seres perfecta como te amarían?
***
Maria Xosé Queizán(1939)
Vigo - Galiza
*******************************************
A amante nunca tem dentes postiços
grãos no nariz
pelos nas coxas
gordura nos quadris.
À amante nunca lhe incham os olhos ao dormir.
O poeta ama a perfeição
não te ama a ti.
Es idealização
mito
metáfora da metáfora.
Se não fosses perfeita como te amariam?
[trad: cas]
Naquela cidade
onde unha rapaza escribía un diario secreto
na noite
mentres o soño desvalido semellaba finxir
silencios compartidos
nesa vella cidade do norte
o primeiro poema de amor flutuaba
coma un blues nostálxico
na noite.
Só quería saber
por qué as cordas permanecen vibrando coma labios
e qué queda do diario secreto
na noite desvelada.
Querería saber daquel río esvaído do soño
tal unha despedida sen retorno,
do silencio curvado nunha praza deserta e antiga.
¿Onde vai o primeiro poema de amor
a materia sonora dun blues fuxidío
a inocencia primeira?
***
Luz Pozo (1922)
Ribadeo - Galiza
FAR BLUES
Naquela cidade
onde uma rapariga escrevia um diário secreto
na noite
enquanto o sonho desvalido parecia fingir
silêncios partilhados
nessa velha cidade do norte
o primeiro poema de amor flutuava
como um blues nostálgico
na noite.
Só queria saber
por que as cordas permanecem vibrando como lábios
e que queda do diário secreto
na noite desvendada.
Queria saber daquele rio esvaído do sonho
como uma despedida sem retorno,
do silêncio curvo numa praça deserta e antiga.
Onde vai o primeiro poema de amor
a matéria sonora dum blues fugidio
a inocência primeira?
Cubriron con exactitude o impreso en vixencia inexcusable,
encheron puntuais os ocos baleiros con nomes completos,
[enderezos e datas precisas de nacemento.
Cumprimentaron os estrictos documentos mediante pólizas determinadas,
certificados de pedra e facturas de floristerías.
Riscaron as cuadrículas burócratas da forma máis sensual
[que puideron atopar naquel bolígrafo.
Non lembro xa cánto papel de estado empregaron na escritura de ingreso ni cántas
sinaturas ensaiadas.
Logo fixeron con tino a
inscripción legal gozosa no
rexistro
e antes de que vencera o prazo foron acordar a
cota mensual de beixos.
Non se esqueza
que se amaron dende as nove corenta e cinco do vintenove de maio
até as sete e tres minutos
dun catorce de setembro.
YOLANDA CASTAÑO (1977)
Santiago de Compostela - Galiza
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O CONTRATO
Preencheram con exactidão o impreso em vigencia irrecusável,
encheram pontuais as lacunas con nomes completos,
[endereços e datas precisas de nascimento.
Cumprimentaram os estrictos documentos mediante apólices determinadas,
certificados de pedra e facturas de floristas.
Riscaram as quadrículas burocratas da forma mais sensual
[que puderam encontrar naquela esferográfica.
Não me lembro já quanto papel de estado empregaram na escritura de ingresso nem quantas
assinaturas ensaiadas.
Logo fizeram com juízo a
inscrição legal gozosa no
registo
e antes de que vencera o prazo foram acordar a
cota mensal de beijos.
Não se esqueça
que se amaram desde as nove quarenta e cinco do vinte e nove de maio
até às sete e três minutos
dum catorze de setembro.
[trad: cas]
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
O teito é de pedra.
De pedra son os muros
i as tebras.
De pedra o chan
i as reixas.
As portas,
as cadeas,
o aire,
as fenestras,
as olladas,
son de pedra.
Os corazós dos homes
que ao lonxe espreitan,
feitos están
tamén
de pedra.
I eu, morrendo
nesta longa noite
de pedra.
***
Celso Emilio Ferreiro (1912-1979)
Celanova - Galiza
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O tecto é de pedra.
De pedra são as paredes
e as trevas.
De pedra o chão
e as grades.
As portas,
as cadeias,
o ar,
as janelas,
os olhares,
são de pedra.
Os corações dos homens
que ao longe espreitam,
feitos estão
também
de pedra.
E eu, morrendo
nesta longa noite
de pedra.
CAMIÑAN DESCALZAS POLAS ROCHAS,
fantasmas de sal habitan as sombras,
saben que as últimas mareas
esqueceron na praia os restos do naufragio.
As mulleres recollen cada noite
os tesouros de auga, líquidos e fráxiles,
rebélanse contra a Historia,
constrúen co mar as estatuas
que nunca permanezan.
As mulleres de sal, con sargazos de sombras,
xorden das últimas mareas
e tecen tesouros de auga cada noite
contra a Historia.
Elas, que saben que o efémero permanece.
***
Ana Romaní (1962)
Noia - Galiza
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Caminham descalças pelas rochas,
fantasmas de sal habitam as sombras,
sabem que as últimas marés
esqueceram na praia os restos do naufrágio.
As mulleres recolhem todas as noites
os tesouros de água, líquidos e frágeis,
revoltam-se contra a História,
constroem com o mar as estátuas
que nunca permanecem.
As mulheres de sal, com sargaços de sombras,
surgem das últimas marés
e tecem tesouros de água todas as noites
contra a História.
Elas, que sabem que o efémero permanece.
[trad:cas]
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Foron ellas, as aves de marzo,
As que viñan anunciando con velocidade de motor ou asteroide cego
A fusión dos grandes xelos que destilan sangue de navalla,
As que avisaron da cor brava dos campos e da tenra carícia das marés, lábios de estanque.
Elas escribiron o teu nome na memoria
Dunha tarde azul de marzo mentres eu vivia
Recén vestido de espera para a festa dos ar.
E alguén pasou repetindo un nome, o teu de ave senlleira,
Muller inevitábel, luz que danza,
Entón viñeche ti a perguntar se para sempre,
Se para sempre era,
Era este amor revelado nos circuitos migratorios
Do último dia de inverno.
***
Xosé Maria Álvarez Cáccamo (1950)
Vigo - Galiza
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As aves
Foram elas, as aves de março,
as que vinham anunciando com velocidade de motor ou asteróide cego
a fusão dos grandes gelos que destilam sangue de navalha,
as que avisaram da cor brava dos campos e da terna
carícia das marés, lábios de estanque.
Elas escreveram o teu nome na memória
duma tarde azul de março enquanto eu vivia
recém vestido de espera para a festa do ar.
E alguém passou repetindo um nome, o teu de ave singular,
mulher inevitável, luz que dança.
Então vieste tu pergungar se para sempre,
se para sempre era,
era este amor revelado nos circuitos migratorios
do último dia de inverno.
[trad: cas]
ATOPAMOS esta madrugada
na gaiola do Mar
unha illa perdida
Armaremos de novo a gaiola
Vai saír o Sol
improvisado e desourentado
Xa temos tantas estrelas
e tantas lúas sumisas
que non caben no barco nin na noite
Xuntaremos paxaros sin xeografía
pra xogar cas distanzas
das sáus aas amplexadoras
E os adeuses das nubes
mudos e irremediabes
E armaremos unha rede de ronseles
pra recobrar as saudades
co seu viaxe feito
polos oucéanos do noso corazón.
***
Manuel Antonio (1900-1930)
Rianxo - Galiza
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Cotovelos na varanda
Encontramos esta madrugada
na gaiola do Mar
uma ilha perdida
Armaremos de novo a gaiola
Vai sair o Sol
improvisado e desorientado
Já temos tantas estrelas
e tantas luas submissas
que não cabem no barco nem na noite
Juntaremos pássaros sem geografia
para jogar com o tamanho
das suas asas abrangentes
E os adeuses das nuvens
mudos e irremediáveis
E armaremos uma rede de esteiras
para recobrar as saudades
com a sua viagem feita
pelos oceanos do nosso coração.
[trad: cas]
aquello era la maduración de toda mi lava
y la entonación rotunda de mis cantos de niña
la absoluta fuerza con la que tiraba por el carro
recibiendo el aliento de los labios de otra vaca.
bailar en mayo exactamente igual que si reventaras uvas
dejarte alimentar beber como quien vive
la leche última
saliendo de una teta dispuesta sobre el sol.
***
Olga Novo (1975)
Vilarmao - Galiza
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aquilo era a maturação de toda a minha lava
e a entoação rotunda dos meus cantos de menina
a força absoluta com que puxava o carro
recebendo o bafo dos lábios de outra vaca
dançar em maio exactamente como se rebentasses uvas
deixar-te alimentar beber como quem vive
o último leite
saindo de uma teta posta por cima do sol
[trad: cas]
Ún xa non sabe que facer
nesta vida
Xa non sabe si será
mellor deixarse caír
na lama como un peixe morto
ou seguir carrexando
o seu noxo polas congostras.
Ún está desesperado.
Ó fin i ó cabo quixera vivir,
quixera ser luz, quixera ser home
e non cederlle a ninguén
o seu posto na loita.
Ún quixera vencer a canseira,
arrombar a delor,
crebar as cadeas
e cantar libremente
unha cántiga moza nos solpores.
***
Fiz Vergara Vilariño (1953-1997)
Lóuzara - Galiza
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Uma pessoa já não sabe que fazer
nesta vida
Já não sabe se será
melhor deixar-se cair
na lama como um peixe morto
ou continuar carregando
o seu nojo pelas veredas
Uma pessoa está desesperada
Ao fim e ao cabo quer viver
quer ser luz, quer ser homem
e não ceder a ninguém
o seu posto na luta
Uma pessoa quer vencer o cansaço,
arrombar o sofrimento,
quebrar as cadeias
e cantar livremente
uma cantiga nova ao por-do-sol
[trad:cas]
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
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