Por tudo que me deste:
- Inquietação, cuidado,
(Um pouco de ternura? É certo, mas tão pouco!)
Noites de insónia, pelas ruas, como um louco...
- Obrigado, obrigado!
Por aquela tão doce e tão breve ilusão.
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,
Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita
A minha gratidão!
Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!
- Maid forte, mais sereno, e livre, e descuidado...
Sem ironia, amor: - Obrigado, obrigado
Por tudo o que me deste!
***
Carlos Queiroz (1907 - 1949)
Amo os teus defeitos, e tantos
eram, as tuas faltas comigo
e as minhas; essa ênfase
de rechaçar por timidez; solidão
de fazer trepadeiras, agasalhos
para velhos, depois para netos;
indulgência de plantar e ver
o crescimento da oliveira do paraíso,
carregada de flores persistentemente
caducas; essa autoridade, irremediável
desafio; e astúcia
de termos ambos quase a mesma cara.
***
António Osório (1933)
Cuidado. O amor
é um pequeno animal
desprevenido, uma teia
que se desfia
pouco a pouco. Guardo
silêncio
para que possam ouvi-lo
desfazer-se.
***
Casimiro de Brito (1938)
Caísse a montanha e do oiro o brilho
O meigo jardim abolisse a flor
A mãe desmoesse as carnes do filho
Por botão de vídeo se fizesse amor
O livro morresse, a obra parasse
Soasse a granizo o que era alegria
A porta do ar se calafetasse
Que eu de amor apenas ressuscitaria
***
Luiza Neto Jorge (1939 - 1989)
A segurança destas paralelas
- a beira da varanda e o horizonte;
assim me pacifico, e é por elas
que subo lentamente cada monte.
O tempo arrefecido, e só soprado
por uma brisa tarda que do mar
torna este minnuto leve aconchegado,
traz mansas as certezas de se estar.
E vêm novos nomes: são as fadas,
gigantes e anões, que são assim
alegres de o serem - parcos nadas
que enchendo de silêncios este sim
dele fazem brinquedos, madrugadas...
Agora eu estou em ti e tu em mim.
***
Pedro Tamen (1934)
Pedras de silêncio somos
se atalhos há
são filamentos ténues
quebradiços
Chamei-te
uma pedra de silêncio
somos todos
uma pedra hirta
ao sol
***
Maria Andresen de Sousa (1948)
imagino que sobre nós virá um céu
de espuma e que, de sol em sol,
uma nova língua nos fará dizer
o que a poeira da nossa boca adiada
soterrou já para lá da mão possível
onde cinzentos abandonam os a flor.
dizes: põe nos meus os teus dedos
e passemos os séculos sem rosto,
apaguemos de nossas casas o barulho
do tempo que ardeu sem luz.
sim, cria comigo esse silêncio
que nos faz nus e em nós acende
o lume das árvores de fruto.
diz-me que há ainda versos por escrever,
que sobra no mundo um dizer ainda puro.
***
Vasco Gato (1978)
não sei se alguma vez viste a morte
crescer no corpo de alguém
sobe lenta como se fossem as escadas
a chegar-te depressa
ou a memória como uma coisa viva
e impalpável como uma fotografia
***
Pedro Sena-Lino (1977)
sobre a cama as metáforas
parecem-me mais belas e
mais sublimes
uma carta
o poder da língua que liberta os beijos e
as pálpebras em êxtase,
quando vens descendo em letra redonda e
a perturbar o meu sono
***
João Ricardo Lopes (1977)
Adormecer num lugar onde promessas
Caminhassem sobre o rio impolutas,
Como ar fresco, noitibós ou conversas
Invisíveis sob as águas como trutas.
Reter o poente para não dispersar
Teu néctar de incêndio que a tarde enlaça
(E em cada vislumbre de ti ao luar
Uma sonata em estado de graça).
O perfume da resina do pinheiro
Mais não fosse que um longo passeio
Do teu vestido aceso e ligeiro.
Remasse eu assim numa noite de Verão
O teu palpitar de flores irrequietas
Pelas águas mansas, sem horas certas.
***
Rui Lage (1975)
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas