Habito nestes livros de poesia por engano,
eu não pertenço à floresta
onde se inventou o fogo
e se troça dos deuses obscuros
domesticando a sílaba dos cavalos
nocturnos
que enrolam as líticas patas do bronze
para além da boca das chuvas,
nada mais desfruto do que a cabeça do tempo,
aí cavo a lucidez dos olhos
da meretriz dos rumores sangrentos
a finitude visceral na injunção do gáudio
em que as mães se extinguem
consanguíneas
sob a abismada ortografia da água
tragando o contágio dos precipícios,
enxerga como o coração fica sombrio e áspero,
o insaciável tacto da separação fervilha
entre livros e coração
o leilão do amor que apazigua a aporia da dor
buscando outra flor outra memória
inominável
a acerba tinta, sangue e corpo
entre formas vulgares e distintas de amar,
e não podendo guardar todas as promessas
sacrificar-me-ei como o cordeiro
em base de alabastro sagrado
com meus ais de guelras inclinadas
sob a inexequível amplitude do verbo
entre a metáfora do relâmpago,
pois livros e mães jazerão então inaudíveis
em sua feroz melancolia
tresmalhados nos seios da tempestade
como sulfurosa fragrância de infindas concubinas.
***
joão rasteiro
(coimbra, 1965)
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