às vezes há focinhos que me preparam a noite
e não sei se continuarei viva.
às vezes a casa tem tantos cantos
que a minha silhueta é salgada
e tenho navios na ponta dos dedos.
o travo que me acaricia tem um infinito
e as minhas pálpebras são as conchas da harmonia do meu corpo
sempre que as encontro.
um tornado traz as sementes das borboletas que duram pouco
entre as vértebras entre o pólen da terra, pernoito
a rodear os nervos do meu peito crucificada
e se eu conseguisse esboçar o vento
seria de precipícios diariamente
e do mortal brilho do meio-dia.
queria destruir um texto com flechas acesas completamente nas mãos
e morrer assim de Verão
em azulejos brancos numa gruta
e o meu cérebro a pique
rotativo e poderoso
como a energia da lua
e agarrar pérolas no coração.
há um sítio astrológico
de cavernas corais
e cristais extensos
que sai do corpo. os mortos levam-me neles
porque tenho arrozais de flores brancas
que me cercam a respiração.
os lençóis onde irei cair são molhados a prata
e a candeias dos palácios.
***
cristina nery
(viseu, 1978)
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