esta manhã na foz, onde eu nasci, o mar da cor do chumbo
rugia contra o molhe, acometia o gilreu exasperado
e era um bulcão de espuma pardacenta a tresmalhar-se nos rochedos.
ouviam-se os pios das gaivotas assustadas, os pios,
os pios no seu voo desconjuntado no sibilar do vento, rasgão de asas
sobre a praia, praia triste como as de augusto gomes,
as das mulheres sobre a areia lisa de cinza, vestidas de negro
no seu trabalho de luto, na sua esperança sem alento,
mas ali não chegam aos baldões pescadores do mar alto, não,
ali, um par despede-se e é para sempre,
os olhos rasos de água e as mãos a desprenderem-se
num mundo pardacento onde morreu o desejo
e ninguém já quer nada de ninguém.
e tu, ó meu amor, não podias gostar disto, desta braveza assanhada,
desta pérgola que vem da minha infância,
onde agora não passa ninguém, desta orla das horas
sem socorros a náufragos, destas águas enfurecidas
onde só há lugar certo para os afogados.
***
vasco graça moura
(porto, 1942)
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