São estes os lugares. Não evocam bosques
nem segredos, não chegam a cobrir
o passado com a crosta de uma sombra -
rasgo a boca e o gosto da lama
espalha-se. No entanto, dobra sem
porquê, retorno sempre a estes espelhos
marcados por dedos crespusculares,
às frias ruas de Novembro, à praia onde
trocámos por um cachecol a primeira traição,
ao fim da noite no descampado,
ao asfalto molhado do coração, a portas
onde o desejo bateu para não morrer.
São os nossos lugares. Como nosso é
o ardor na garganta pela manhã, a radiação
da veia a latejar, uma lasca de madeira
entre a carne e o osso, a visão do avô
paterno, numa fotografia, a cavalo,
a súbita amputação das pernas, a terra perdida,
o tanque vazio da quinta, a blusa que sobrou
de um corpo, lugares onde é mais liso o arco
da dor e o pensamento se fere, silencioso, como um bicho.
Por eles volto a acreditar na escuridão e na luz.
***
luís filipe parrado
(seixal, 1968)
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