Pego numa vara e desenho à minha volta
com a dimensão dos meus braços um círculo no solo.
Dentro apenas uma areia escura, muito fina,
um pó perdido e inerte,
que enegrece os meus pés.
Pedras soltas, poucas. Mais nada.
Olho o círculo, trezentos e sessenta graus de país
com o tamanho dos meus braços
e o poema é apenas uma memória.
Adormeço em pé durante meses, fixo nestes ossos.
Cabe alguém nesta ilha?
Choro a tua partida como um continente
que chora o soltar de uma porção de terra,
de uma nascente ilha em direcção ao horizonte,
e espero neste ponto móvel que dês a volta ao mundo.
Deixo cair a túnica, a única coisa que me cobria.
Levanta-se um sopro, uma nuvem sobre quem eu sou,
uma rouquidão crescendo aos poucos na minha voz.
O meu corpo cobre-se de algas.
A meio da noite escura solto um grito,
o sal secou sobre a minha pele, volto a vestir a túnica,
cubro a cabeça com o capuz,
pego na vara e continuo a desenhar coisas estranhas
nesta areia até o sol nascer
***
luís brito pedroso
(lisboa, 1977)
******************************
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas