Há rastos de lume nos olhos
de poeira erguida ao redor dos passos
de gente que se levanta
e não come e não dorme e se consome
enquanto os dias à beira da água parados
bebem o tranquilo pousar das aves
enquanto as almas crescem como trigo
dentro de cada gesto e explodem
o fogo devora
o fogo é isto no fundo dos olhos
in vinte e seis poemas iniciais
Livros sem editor (1971)
***
Pires Laranjeira (1950)
Obrigado pela visita.
Já não vejo o Matos-Cruz há muito tempo, a última vez tendo sido na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde sou docente de literaturas africanas.
Já publiquei outras pequenas coisinhas de poemas, mas é engraçado como esse poema por si agora exposto ainda me fala aos sentimentos, ainda o acho razoável - como é a vida...! Pensamos que tudo terá passado, sendo já pó e - insisto - alguém o (re)descobre, o publicita e eu, que raramente visito a NET, dei com ele! Deve-se imaginar a surpresa que foi para o próprio autor...
Cheguei até a publicar um livro no Brasil com pseudónimo, depois republicado em Portugal. É assim que gosto, pelo menos neste momento - sem o nome real, para ninguém ler biograficamente.
Mas, neste caso, que era (é) um poema de amor, independentemente do seu real valor, sinto que mantém alguma frescura e isso chega para louvar o seu sentido crítico, para além de qualquer sentimento de auto-estima. Num primeiro momento, quase nem acreditava que o texto era meu!
As saudações do
P. Laranjeira
19 de abril 2013
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