Cansa-me ser quem serei
porque emtudo esse outro
se parece com o que sou.
Cansa-me o adeus de quem nasce.
E a viagem, à nascença, morre de fadiga.
Só a tua lava me lava.
Resto eu em ti
terra ardendo,
chão de água e fogo
Abraça-me.
Abrasa-me.
***
mia couto
*
Pára-me de repente o Pensamento...
- Como se de repente sofreado
Na Douda Correria... em que, levado...
- Anda em Busca... da Paz... do Esquecimento
- Pára Surpreso... Escrutador... Atento
Como pára... um Cavalo Alucinado
Ante um Abismo... ante seus pés rasgado...
- Pára... e Fica... e Demora-se um Momento...
Vem trazido na Douda Correria
Pára à beira do Abismo e se demora
E Mergulha na Noute, Escura e Fria
Um olhar d`Aço, que na Noute explora...
- Mas a Espora da dor seu flanco estria...
- E Ele Galga... e Prossegue... sob a Espora!
***
ângelo de lima
*
di mi nombre
abre la boca y ámame con mi nombre diciéndote
[y entonces tu voz será una herida luminosa
un indicio de todos los perdones
del mundo]
M.A.Becker
SI DIGO MAR no sólo te estoy diciendo
/estoy diciéndome
Si digo mar estoy diciendo SAL y FUEGO
/incendio
Si digo mar
estoy diciendo mundo/ meldar el mundo / mundar
con tu voz diciéndome
Si digo mar aprendo
/el Mar es mi maestro/ y mi espejo
y tú solo eres el suave
/ crepitar de la ceniza
dentro de la urna crematoria
del mundo
sólo la luz marmórea
del mundo
sólo la piel
sedienta
de água
SALgada
[amargos,
como SAL, como un alga
/ tus besos]
***
santiago aguaded landero
*
há canções mortas grudadas no corpo
domingo nunca mais.
as roupas sujas de barro
araras, andorinhas, canários
fios elétricos cantando na solidão.
as aroeiras cresceram na ausência
seus galhos tortos ferindo os abraços.
as grotas invadindo o amor,
estranha saudade costurando a existência
os arames farpados esticados na linguagem.
mangas maduras esperando serem colhidas
mas outro é o alimento dos olhos.
aconteço dentro do suicídio cotidiano
os cadáveres gritam por dentro da angústia
estou por ser engolido pela fome.
***
sandrio cândido
*
equinócio dos acrobatas defloro
maquinista que desenha com as duas mãos abertas
na carranca invisível do tempo outras nuvens
dois moleques debocham - esquecendo o lodo da história
olhos que viajam no vôo das aves
rua mansa hoje explodiu em congado
cantos ritmavam ainda mais o batuque
as agulhas se transformaram em víboras
este menestrel de soluços grandiosos
ama o silêncio das cores - fotografias de algodão doce -
instantes que choram
vazio de tanta misericórdia meu verso não tem disciplina
garatujas se confundem com a carne
alfaia de incertezas transcende
aqui trapo de voz representa o fôlego
imagina se todas sonhassem
se as paredes reclamassem vida
quem nos acordaria
com que relógio brindaríamos o tempo
sei que o néctar do capital é pálido
que as proezas do sanfoneiro se acomodaram nisso
mas yatiri fortalece as corolas
fogo libertando a língua
aprumo de parábolas o grito
na frente do mar nem pude saciar a sede
maresia de alma - coração na boca
veio verdejante - primaveril - o gozo
os albergues da razão continuam fechados
espelho me propaga desastre
a ilusão da pele
o reflexo do olho dentro d’água
longe daqui uma melodia pede passagem
tanto que já nem se organiza o peso
***
alain bisgodofú
*
sou uma coluna crematória.
queimo teu nome,
aquática.
hidra.
sou o desaguadouro desta espiral de mortos que te antecede. redemoinho. digo que no alto de meu pensamento há uma hóstia: a lâmina de teu minicrânio lunar, liso,
de teus antivocalises de mármore.
*
sou uma hidra de nove línguas, e embaixo de cada uma dessas línguas estão as miniluas-palavras que tu não sabes dizer. os nomes de teus mortos,
intactos.
teus antepassados.
*
é um fluir de espelhos que se ilumina e se turva
na minha saliva.
nas bocas das centenas de mortos
que beijo
através da tua boca.
***
marceli andresa becker
*
I
Pulso quebrado
da noite
Rasgo
a lucidez
na
gangorra
dos sonhos
engarrafados
II
No espaço arco-íris
do meu quarto
Não há resposta
para tua dor
Apenas,
silêncios na estante
da tua carne
***
máh luporini
*
Nacín vello de máis
para gozar dos encantos lixeiros
ou para me rebelar pasando á acción
Camiñei ás tombadelas
coma unha xunta de bois enfermos
arrastrando os brazos –maromas deitadas aos lados–
polo chan, incapaz de amarrarme a ningures
Con desleixo rocei os dorsos das mans
contra as arestas das pedras
por ver se sangrando
–non en tal cantidade que me impedise dar o seguinte paso–
conseguía sentir algo distinto
á indiferenza
cósmica
das nubes, que mollándome
nin me miran
***
david rodríguez
*
no extremo oriente neste anaco
escolleito pola tundra elixo
abrir a pel da morsa sobre a neve
envolverme na capa que deron
os seus intestinos dita ukkenchin
tallar os seus cairos puídos polas ondas
comer da súa carne sentir
o seu recendo coarse mesto entre as guedellas,
á beira do mar de Bering
no mar dos chukchis na praia
dos seixos escollo como cómpre
ser falante de chukoto
como cómpre a quen se randea
no bordo da extinción
ser falante de chukoto
a lingua dos cazadores
de renos orgullosa lingua
do pobo verdadeiro escollo
ser falante de chukoto
***
elvira riveiro tobio
*
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