era uma vez um poeta
que queria pôr no mar coisas da terra
já lá havia estrelas
cavalos
e anémonas
que mais se haveria de arranjar?
talvez uma roda de oleiro
lentamente formando ondas
que nunca se hão de quebrar
(pelo menos não serão esquecidas)
talvez pólvora muito húmida
fazendo o mar rebentar
em polvorosa
ou em pôr-de-rosa
talvez até uma peça a duas vozes
(ora o tema em maré cheia
ora o tema em maré vaza)
fazendo, de todas as horas, vagas
que se podem continuamente inventar
***
pedro ludgero
*
Esmeralda é uma joia de pessoa
Rosa é uma flor de pessoa
Estrela é um brilho de pessoa
que só brilha noite sim dia não
mesmo a Rosa só é flor
durante uma estação
e a joia da Esmeralda
(tão bela e preciosa)
é tão penoso arrancá-la
que mais vale deixá-la sonhada
no bater do coração
***
pedro ludgero
*
(Este poema, como todos os que são etiquetados como "Poemas para a Joaninha", faz parte de um livro infantil em construção cujo título será "Pôr no mar coisas da terra")
Uma casa sobre o mar
Uma esmola de rubi
- Minha mãe me vai buscar
Tudo aquilo que esqueci
Uma casa sobre a terra
O salário só de um mês
- Minha mãe nas mãos me leva
A ternura que me fez
Uma casa sobre o vento
Um tesouro de maçã
- Minha mãe traz porta dentro
O caroço de amanhã
***
pedro ludgero
*
(e=71)
tenho todo um tempo de juventude
polido no vazio
(em deserto)..........................
talvez tal exceção
me dê direito a um voucher
com um temporada num hotel
do lido de veneza
um desses
com praias exclusivas
onde até o clima deve ser mais fresco
e as brisas aquecidas
em todo o caso
esse tempo assim precioso
pretendo usá-lo no céu
como um diamante de sangue
não porque os sofrimentos sejam comparáveis
é mas é o céu
que é bem menor do que o mediterrâneo
e os que nele se perdem não conhecem
a raça da sua infância
a classe do seu anseio
[ou orientação de dor]
***
pedro ludgero
*
(e=55)
queremos tudo de bom para o poeta
paisagens simples e eloquentes
rapazes que por lá passeiam como um feitiço involuntário
e o vento.......................................
que é uma teia de aranha
mas a contrario
insinuando em todas as coisas
(ao princípio de algum tempo)
o desejo de sair do sítio
também uma biblioteca de sóis
que a leitura torna noite ou ficção
as mais subtis lérias científicas
o décimo terceiro mês
e o subsídio de férias
[tudo
para que o poeta chegue à boca de cena
e
caso seja essa a sua verdade
diga que não é feliz]
***
pedro ludgero
*
seco meio-seco ou doce
será qualquer rio
conforme
for conforme às suas margens
ao seu leito
às suas águas
***
no momento áureo da escrita
salta a rolha da visão
mais que a foz da sensação
esbraseia
vaga esperança
o espumar de um mar-ideia
***
quem diz
que p'ra atravessar o poema
são necessárias as pontes
nunca presenciou
esses momentos festivos
em que se tocam as margens
dos rios
num brinde invulgar
***
pedro ludgero
(porto, 1972)
******************************
para sempre em queda
o Homem desce a escadaria
da infância
e a si mesmo se atropela
na saída de emergência
por vezes livre
porém perto do declive
da inocência
mas outras vezes veloz
leva o corpo em correria
na decadência da voz
pode então a escadaria
cair também, logo após
rompem os degraus das lágrimas
***
Pedro Ludgero
Porto - 1972
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