Sábado, 3 de Março de 2012
contínua cordilheira

 

Música primeiro embalo no útero respiração da água

halos sonoros em movimento puro

júbilo agónico de sangue sistemática

desencadeada medida em lume organizado

movimento de ondas fisionomias longas

oferecem a espuma do sangue em copos de cristal

levanta-te fidelíssimo o ser da orfandade

e em materna cadência vai modelando os soluços

do luto de não ser já o ser no pleno seio

e em miseráveis veios em duras chamas lavra claras pedras

 

***

 

antónio ramos rosa

 

*

 


lido em: Publico

publicado por carlossilva às 12:22
link do post | comentar | favorito

Quinta-feira, 10 de Novembro de 2011
vi-lhe os flancos delicados

 

Vi-lhe os flancos delicados

como se tocasse o nome

de um navio.

Eram sílabas talvez de um verso puro

ou a dócil matéria

firme

de uma ilha adolescente.

 

Entre um círculo de ramos

vi-lhe a tímida luz do rosto

e as duas pequenas luas dos seus seios

que estavam vivos e novos

no eléctrico pudor do seu desejo.

 

Vi-lhe tremer os lábios

como se quisesse suster a iminência

de um gesto eloquente

e ser apenas o murmúrio de uma folha

contra as cálidas palavras

que eu corria o risco de dizer.

 

***

 

antónio ramos rosa

 

*


lido em: Os Volúveis Diademas

publicado por carlossilva às 00:06
link do post | comentar | favorito

Quinta-feira, 27 de Maio de 2010
teu corpo principia


Dou-te um nome de água
para que cresças no silêncio.

 

Invento a alegria
da terra que habito
porque nela moro.

Invento do meu nada
esta pergunta.
(Nesta hora, aqui.)

 

Descubro esse contrário
que em si mesmo se abre:
ou alegria ou morte.

 

Silêncio e sol - verdade,
respiração apenas.

 

Amor, eu sei que vives
num breve país.

 

Os olhos imagino
e o beijo na cintura,
ó tão delgada.

 

Se é milagre existires,
teus pés nas minhas palmas.

 

O maravilha, existo
no mundo dos teus olhos.

 

O vida perfumada
cantando devagar.

 

Enleio-me na clara
dança do teu andar.

 

Por uma água tão pura
vale a pena viver.

 

Um teu joelho diz-me
a indizível paz.

 

***

 

antónio ramos rosa

 

(faro, 1924)

 

 

**************************


lido em: http://boticelli.no.sapo.pt/Poesia_Links.htm

publicado por carlossilva às 10:36
link do post | comentar | favorito

Domingo, 13 de Setembro de 2009
este viver comum

 

Este viver comum

será nosso futuro

É nosso já presente

este amor que não temos

 

É nosso e nosso o tempo

que de tão longe somos

O pomo puro que negam

branco se fez no dia

 

***

António Ramos Rosa

 

******************************

 



publicado por carlossilva às 15:10
link do post | comentar | favorito

Sábado, 1 de Agosto de 2009
alta pálida tenebrosa ardente

 

Alta pálida tenebrosa ardente,

trazida por um profundo vento

era a figura de um violento esplendor

que atravessara o carvão da morte.

O ouro das suas coxas planetárias

estilhaçava os espelhos e os quadros

e a serpente que se enroscava na sua cintura de guitarra

tinha a túmida lentidãode um vegetal incandescente.

Os seus ondulantes flancos de montanha

rasgavam o espaço como um barco de basalto.

O odor do seu sexo era negro e roxo como o do mosto

e as narinas de égua sorviam o ar ácido.

Ela beijou-me a boca com a violência fulgurante

de uma anelante pantera e eu senti que descia

a um abismo de fogo e de oscilantes trevas.

 

***

António Ramos Rosa


********************************

 


lido em: Os Volúveis Diademas

publicado por carlossilva às 04:29
link do post | comentar | favorito

Domingo, 14 de Junho de 2009
estou olhando os frutos repousados

 

Estou olhando os frutos repousados

e as pequenas sombras alongadas

sobre a mesa de madeira e pedra.

A brisa entra por uma porta antiga.

Uma pétala branca cai de uma flor branca.

Sou, mais do que sou, estou

na perfeição das coisas que me envolvem.

Repouso na sinuosa exactidão.

 

***

António Ramos Rosa

 

***************************



publicado por carlossilva às 00:51
link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 30 de Abril de 2008
não posso adiar o amor...

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.

 

 

***

António Ramos Rosa (1924)

Faro - Portugal



publicado por carlossilva às 00:01
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
agenda
18 de abril 2013 19 de abril 2013
Junho 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
14
15

18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


posts recentes

contínua cordilheira

vi-lhe os flancos delicad...

teu corpo principia

este viver comum

alta pálida tenebrosa ard...

estou olhando os frutos r...

não posso adiar o amor...

arquivos

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

tags

a m pires cabral(4)

adelia prado(5)

adilia lopes(8)

al berto(6)

alba mendez(4)

albano martins(4)

alberte moman(8)

alberto augusto miranda(9)

alexandre teixeira mendes(11)

alfonso lauzara martinez(8)

alice macedo campos(13)

alicia fernandez rodriguez(5)

almada negreiros(4)

amadeu ferreira(8)

ana luísa amaral(6)

ana marques gastao(4)

andre domingues(5)

andreia carvalho(4)

antonio barahona(5)

antonio cabral(5)

antonio gedeao(5)

antonio ramos rosa(7)

anxos romeo(4)

ary dos santos(5)

augusto gil(4)

augusto massi(4)

aurelino costa(11)

baldo ramos(6)

bruno resende(5)

camila vardarac(9)

carlos drummond de andrade(5)

carlos vinagre(13)

cesario verde(4)

concha rousia(4)

cristina nery(5)

cruz martinez(9)

daniel filipe(5)

daniel maia - pinto rodrigues(4)

david mourão-ferreira(6)

elvira riveiro(8)

emma couceiro(4)

estibaliz espinosa(7)

eugenio de andrade(8)

eva mendez doroxo(8)

fatima vale(10)

fernando assis pacheco(4)

fernando pessoa(5)

fiamma hasse pais brandão(5)

florbela espanca(7)

gastão cruz(5)

helder moura pereira(4)

ines lourenço(6)

iolanda aldrei(4)

jaime rocha(5)

joana espain(10)

joaquim pessoa(4)

jorge sousa braga(6)

jose afonso(5)

jose carlos soares(4)

jose gomes ferreira(4)

jose luis peixoto(4)

jose regio(4)

jose tolentino mendonça(4)

jussara salazar(6)

luis de camoes(5)

luisa villalta(4)

luiza neto jorge(4)

maite dono(5)

manolo pipas(6)

manuel alegre(6)

manuel antonio pina(8)

maria alberta meneres(5)

maria do rosario pedreira(5)

maria estela guedes(7)

maria lado(6)

maria teresa horta(5)

marilia miranda lopes(4)

mario cesariny(5)

mia couto(8)

miguel torga(4)

nuno judice(8)

olga novo(17)

pedro ludgero(7)

pedro mexia(5)

pedro tamen(4)

raquel lanseros(9)

roberta tostes daniel(4)

rosa enriquez(6)

rosa martinez vilas(8)

rosalia de castro(6)

rui pires cabral(5)

sophia mello breyner andressen(7)

suzana guimaraens(5)

sylvia beirute(11)

tiago araujo(5)

valter hugo mae(5)

vasco graça moura(6)

virgilio liquito(5)

x. m. vila ribadomar(6)

yolanda castaño(10)

todas as tags

links
pesquisar
 
blogs SAPO
subscrever feeds
Em destaque no SAPO Blogs
pub