Cresce, sem paralaxe, o Autor de rua, Autor de montão, uma técnica de criar país fora dos espetos, a boca filiada num cigarro previamente fumado pelo asfalto dos vermes. Voga pluvial o sonho neste dossel de lençol permeável, funéreo design_io inscrito por dentes emprestados para fonificar o empréstimo: a língua. Pouco o Autor fala, transita em exagero a brutal e pletórica contenção. Uma manta suja de retórica em função, a escarradela como o mais sábio petroglifo destes corpos que esperam o autocarro para os subúrbios de Vénus.
Ao largo do indoor, outro monturo se prepara nos milímetros à volta: a sucção em general das imagens. Uma violenta cruz nocturna, talhada no silêncio conforme, propaga a muralha diante da freguesia. Os numerosos Autores comem rostos. Com eles são deitados e administrados, o corpo fora da vigília. Pagam em força, fealdade e inexistência, mesmo quando a voltagem dos neuro-receptores lhes instiga clarões de santelmo, episódios de marra, marrativas.
O alto vigia dentro como o arcaico omni, agora sem reivindicação, cada consumidor do divino leva o remorso no zigoto. Saem roncos de expedições às barragens. Um elevador de carmim equilibra o movimento rodando, como se fôra diverso, os cardápios das sensações de comércio, de deitar fora. Os transportes, em teleologia ou noética, estão protegidos pela loucura, pelas Pistas. Têm Patente.
Todos sangram, todos urgem. No assisdente, estilhaça-se o envase. A extensão do fragor inicia a Arca d'Alva, nova rataria se apressa a imprimir bilhetes para as viagens Ao Mesmo. como se a ignição do repetido, da droga funcionária, fosse a Doroteia do Júlio Dinis, uma retro mediocritas marketada em aurea, o Re-nascimento, essa utopia que sustenta a prisão.
***
alberto augusto miranda
*
o maço do mundo
fendido
em março piais
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alberto augusto miranda
*
Com o seu Quê, na franja de belém sobre o tejo, no despenhadeiro murado que ampara conhecidas esplanadas, o retoque de uma mão assolando o buraco frio e castanho, diminui e revitaliza os jerónimos.
na frontaria, no encaixe de suas traseiras, na compunção de uma arquitectura organicamente lida, as fezes barrocas apontam à trívia cidadela de onde a metáfora se escapa. Dali, das peneiras, se ausculta o centro comercial a ser virtuosamente adjudicado para forragens, jorrando notas à rebatina na composição do pavimento áccio-turístico.
Quando se acende a ala-lâmpada, desafeita às conquistas, o morro almadeno vitupera as crenças infantis com que se ouve, em mistura, a chuva nos telhados romanescos.
Imagino, preciso, um telhado, o céu não me conforta. Creio que a admiração resulta da visão medo-espantada. O terror firmamental, marítimo, gasoso, térreo, fez nascer a Beleza. Muitos se pulsionaram para acrescentar tal terror, para alargar o conceito de Belo. Viciados nesse medo arquétipo, combateram-no com monumentos cheios de Beleza. São cercos a Lisboa. É difícil apalpar esses módulos. Falámos nos séculos dessa beleza inagarrável. A estética é uma arma de guerra, um supremo.
Descendo a Graça, o roncar vintista do 28, na cidadania do vento, escolho os calmares, moluscos temperados no guisado das desproporções. Indiferentes e o inexoráveis, as águas?
Ao investigá-las, a apoteose dos hidrocarbonetos e de toda a semântica do lixo, fazem-me inalar as bolsas dos atravessantes, dos que nadam, dos que transitam em nada, cobrados, sadicamente cobrados.
A ponta, na sofreguidão messiânica do futuro, salta em mola sobre a insónia: os valetes continuam as suas tarefas de manter a higiene da pupila anal.
Um rio, em mar terroso vai avançando, deslocalizando a obra. No andar soterrado da travessa de s. vicente, entre a falente feira da ladra, os únicos esguichos sonoros pertencem às felinas morganas que antecipam intuitivamente os naufrágios.
Não vou comer os pastéis, nem pisar as ervas jardineiras do império. Mais a sul, no exacto mediterrâneo dos desejos informatados, um emigrante-peixe sucumbe ao peso dos seus cuidados, não pode ninguém da proceridade precaver-se.
E o zumbido da europa a farfalhar-se de leis guilhotinantes ouve-se em qualquer centro. Num bar calafetado, exaurindo com dificuldade o dia não-acontecido, os trovadores da ordem encontram energias para a justificação do balofo e, mais danoso, do taipal que cobre os horizontes. As obras - castanhas e frias - continuam a fazer-se às escondidas.
O Tejo deixa? Levanta-se um acetinado aeroporto que servirá as multidões que se dedicam à escravatura do tráfego, do tráfico. Mobilidade Mobilidade. Os amores são fixações e não trazem salários que paguem o aluguer da cabana.
Desde há cem, pessanha, eu já nem a luz vejo.
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alberto augusto miranda
*
No talhar da emergência, na fala ventríloqua da arqueologia simbólica, o ship sob o ship sob o ship. Triliões de fragas cobertas de musgo tapante de emissões, uma mediateca removida até à campa onde o alvitre acampa. Procuradas as estafetas que levam a migalha genética em uso de memes refractários, tacteia-se o rígido em polifragmento, inimigos dormindo no
mesmo cristal.
Este é um tempo enevoado por fumo de alicate.
Três meses grandes, três meses a abarrotar de simulacraus drogados no Simulacrau. Do carreiro encardido, de três em três quilómetros, a placa indicando o aromatério.
O fedor esplende.
No labaret, pancé e pensée vão de toulouse a andorra comprar imaginários.
Pernoitam em gruta rústica.
Satisfazem-se pela internet.
São imaginados por um não-lugar.
Sem animais.
Os aparatos nickam-se, são extra-pontas reverdecendo na clamância diante do muro pantalhonista. Poma, no duro retorno ao canteiro, acrescenta-se doutro halo. Toma vários alprazo-lides para suportar estar fora do Speculum. Terá de sonhar até conseguir pagar a conta e voltar à não-existência. Outros berram-se. É rara a música.
Falar dos aprioris da doença. Conhecer seu dentro. Seu corpo, seu a-exterior.
Ouvir a espumância das razões.
Não claudicar ante a normatividade.
Nunca tive problemas com espinhas, vomito com muita facilidade.
Abandonei a casa por me ser insuportável o quotidiano dos parentes. Não volto lá.
Espero perder-me e ver Natascha amamentando metrossímeros e araucárias.
Vestir pele.
Coalhar os bons dias.
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alberto augusto miranda
*
Que matança receber-vos. E desmemória: pensava-vos mais castrejos, menos pululantes às comidas. Desapareceram-me recentemente dois seres, assim vos trespasso como transparentes. Consumo ainda algumas regressões para manter certo emprego.
As onanotecnologias encontraram no meu corpo um recipiente perfeito.
Não sou dada. Ide. O atelier do transtorno é a última porta à direita.
Que de baloiços, cavalinhos, almofadas, escorregas, posso deixar. É como se tivesse praticado a lei das sesmarias, que de bem me sinto.
Comam esse bolo-cadáver.
***
alberto augusto miranda
vila real, 1956
abriste o silêncio e reparamos
a tua mãe a nascer levantando
a cabeça devagar
era difícil
naquele vestido de bolas pretas e brancas
voltar ao areal atlântico, à península
dos desejos sem disciplina
estando o filho a ver
quanto mais o silêncio era fundo
mais percebíamos que não olhasses a tua
mãe
de frente,
gritasses: ó fuga, ó fuga,
que escuna para sair?
e ser nesse choro que ainda mais
a tua mãe nascia
rio, mar: filho, vem,
deixa essa jangada que transporta o equívoco
com roupas de solidão
***
alberto augusto miranda
(vila real, 1956)
******************
sai-me dos olhos um cavalo
um destino em reserva
para as facadas na garganta
com mãos cruéis
como se fosses ostra e tivesses acaso
uma puta de uma pérola
ameaças porque o vento não sopra
de ti de nenhum
porque me desejas abelha à tua volta
impões um caudal
de espinhos à minha chegada
Atiro-me aos cimentos, às buzinas, aos
patrões , é livre,
se falo há um erói
um caule de ventura
baila por sobre ti
o cavalo que me saiu dos olhos
anjo de leite vermelho
por sobre ele te afastas da consistência
o sumo equídeo
se teria esgotado no côncavo
de um sonho finissecular
contra as rochas da pululante
Grécia às ilhas
***
alberto augusto miranda
(vila real, 1956)
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Durante o dia não existo à noite
procuro dormir.
Que não se (a)funde, conhecer
o caminho das águas, Tales vez,
um cacho de pupilas eróticas dentro
dos meus olhos oclusos
Durante o dia não existo à noite
procuro dormir.
O Pássaro sem ninho senão o pássaro
Tirava Um
passe para um busKeaton
outro para a sementeira
do lixo
para o desfalquelore
proporcionar aos raios um destino pessoal
dar-lhes de comer, ser existido
no júlio viernes, o homem que era
sexta-feira
o passadiço de Todos no bus, no com bus, na combustão
com bosta, as Férteis, as Loucas do Contínuo
Mais 900 paredes levantadas, o cementério
permanece para o jogo da Glória
Lá vai O que não sabe
com uma cesta de ovos na cabeça
chocados no telegalinheiro.
O que ele acumula, que Lépido está.
Durante o dia não existo à noite
procuro dormir.
***
alberto augusto miranda
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mulher a fazer vento espantada
da falta do mesmo
assim não se pranteando
em ligeiros indícios com a mão lenta
e um pé semovente um pouco à frente
do que antes
ter uma fé em suave detérmino
devagar abandonando abandonos
finíssima brisa nascendo em si
sobrecalando rugidos, pancadas em rumor, gritos
por detrás de onde a vemos sair agora
em todos os lados o luar se faz divino
sopro.
***
Alberto Augusto Miranda (1956)
Vila Real (Portugal)
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