Gastamo-nos na erva
nas espadas
nas paredes rombas de salas olvidadas
e somos sempre
um selo
um carimbo espelhado
de marcos concebidos
nas esquinas
de uma lágrima
um inclinar de ombros
tão só
o azul
os dentes marcados em água nascente
e em quadriláteros
nos morremos
sofrido e lento parto
encarcerado
de inícios
sonhos transversos para um poema
são os dias relidos
em folhas soltas
de um livro aspergido
salpicos de sangue
azedo de tempo
os coágulos a estancar as feridas
das veias cortadas
num assassínio brando
sorrimos
o olhar para trás
o corte das rosas maduras
e as vísceras minguadas
neste espaço tão fundo
em louca vertigem
à passagem das luas
ao quente pulsar
do trânsito veemente das bocas
se
o arame farpado
ou lâmpadas roxas
se
a língua seca
de trinados metálicos
se
o canto abafado
em espartilhos de vidro
apontamos o dedo
a unha encurvada em garra
presa fácil
o ar que respiramos
a mudez atacada de cegueira
ai
as pedras
gastam-se na erva
nas espadas
nas paredes rombas de salas olvidadas
olhamos para o lado
uma criança chora
esquecida da dureza do vento
quando a terra é seca
e os cardos invadem as dunas
leva no olhar o sal
nas mãos um barco de papel
asas longas
à espera de um sopro
de um bafo quente
de boca interior
não bastam as pegadas na areia
pés de planta augada
erguemos o rosto
beijamos a espuma dos dias
perguntamos
e se a morte não basta?
***
almerinda alves
melgaço, 1965
*
adelia prado(5)
adilia lopes(8)
al berto(6)
alba mendez(4)
anxos romeo(4)
augusto gil(4)
aurelino costa(11)
baldo ramos(6)
carlos vinagre(13)
daniel maia - pinto rodrigues(4)
fatima vale(10)
gastão cruz(5)
jaime rocha(5)
joana espain(10)
jose afonso(5)
jose regio(4)
maite dono(5)
manolo pipas(6)
maria lado(6)
mia couto(8)
miguel torga(4)
nuno judice(8)
olga novo(17)
pedro mexia(5)
pedro tamen(4)
sophia mello breyner andressen(7)
sylvia beirute(11)
tiago araujo(5)
yolanda castaño(10)
leitores amigos
leituras minhas
leituras interrompidas