Sexta-feira, 31 de Maio de 2013
A luz enigmática incidindo no mármore

 

A luz enigmática incidindo no mármore

as suas veias que correm

na inanimação da pedra.

Dão-me a beber

a luz estranha

 

***

 

tiago gomes

 

*


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publicado por carlossilva às 02:25
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Quinta-feira, 30 de Maio de 2013
agora xa dis dói-dói

 

agora xa dis dói-dói.

 

a min, logo de caer no recreo,

botábanme líquidos escuros,

(sempre mestres de bigote).

é por iso que aprendín a berrarpupa

.

e xa ves:

choramos no mesmo idioma.

 

***

 

alicia fernandez

 

*


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publicado por carlossilva às 05:19
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Quarta-feira, 29 de Maio de 2013
se deita a cabeça fora na estrada

 

Se deita a cabeça fora na estrada

e vê se fi ca matéria por regurgitar,

verá se o deus está por baixo do mar

ainda disposto a expirar compracido,

quando as bocas da vaidade desta civilização

terminem de expelir o ciúme dos seus vómitos,

proferindo toda a bile e mesmo o próprio estómago.

 

seguram nas maos os olhos dos seus rostos extraidos,

uns olhos de neve e pregos sobre os dedos da lapidação

que ergueram a fronteira entre os corpos condenados

e fazem jurar bandeira como anjos aguerridos

–na língua que inocula com veleno a dissidência–,

aos amantes que bifurcam a sua vereda.

 

na margem direita de quem mira para o norte

a condenada recolhe os olhos e os pregos da tortura,

e sobre o muro contentor refulge a balaustrada da gorgona.

na margem esquerda de quem mira para o norte

um barco desamarra carregando a sua latitude

e nom sabe mais das outras margens.

 

as poças acumuláram verdeamarelas secreções

que cobrem os corpos nus pisados

pelos transeúntes que cospem sempre no chao.

o sangue coalhou guardado na gaveta

e dele nasceram vermes branquinhos e cavalos alados.

 

no mar, ainda, o deus que hiberna

será um dia compracido quando o gume cortar

a fúria na corda que afoga os cavalos brancos,

libertos da ira que detém as marés.

e este gigante erguerá sobre o oceano um látego,

sacudirá nas bestas de sal o brutal galope,

e correrão em árdua viagem na conquista da areia

a todas as praias do mundo,

à praia de normeraltha

 

***

 

laura branco

 

foz (lugo), 1984

 

*


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publicado por carlossilva às 15:59
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Terça-feira, 28 de Maio de 2013
fórmulas manipuladas


 

        Incenso de alfazema à venda na farmácia – aceso, acalma demônios. Pavios

queimam cravo e canela, canteiros de patchouli. Na prateleira a loucura das ervas,

atrás do balcão coração de venenos. Pétalas evitam colapso, floreiras exorcizam.

Girassol sofreguidão. Passiflora frigidez. Madressilva a ira. Jasmim o vício. Canção

de clareiras ecoam no subsolo, florestas revolvem-se em tubos de: caldeirões

pretéritos, caldo de bruxas eternas.

 

***

 

rosana piccolo

 

s. paulo, brasil

 

*

 

 

 


lido em: http://www.mallarmargens.com

publicado por carlossilva às 08:22
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Domingo, 26 de Maio de 2013
bilhetes para auto-exílio

 

 

I

 

marechal – centro. vias de pelica

onde nossos pés acreditavam o poema.

nos mentia o lugar

que se falsava acontecimento

 

II

 

(era placenta seca o que pisávamos)

 

III

 

ruas fendidas, sondadas no enigma

que se nos desfaziam

– habitávamos em silêncio

no que hoje nos tecemos juntos

 

IV

 

renda expurgada de seu líquido,

sêmen oco que nos desalojava

gota-a-gota

 

 

V

 

(em você foi primeira a coragem de existir

para fora desse centro estéril, onde

– EM VERDADE –

o poema era acontecimento em nós)

 

VI

 

somos abortos, bia, desse ventre árido:

praças de areia, luminárias diáfanas,

escombros de casa – que desabitamos. existimos

 

VII

 

num lugar espaço

aberto entre

o abraço e o infinito

 

 

***

 

diogo cardoso

 

*

 


lido em: http://www.mallarmargens.com/2013/05/dois-poemas-de-diogo-ca

publicado por carlossilva às 09:26
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Terça-feira, 21 de Maio de 2013
queria ser vento

 

queria ser vento
queria ser água, sol
e flor

tudo que fosse
o que não sou

 

***

 

nydia bonetti

 

*


lido em: http://nydiabonetti.blogspot.com.br/

publicado por carlossilva às 08:30
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Segunda-feira, 20 de Maio de 2013
vírgulas de sangue

 

Eu, alguns centímetros longe da vírgula

(recurso antigo) amparo o longe:

o muro esburacado vai cair

e as doidas cicatrizes já se comem,

cheias de bolor, umas às outras.

De poeta em poeta, através de mim,

mudo o discurso para trás do barco;

vencido durante horas não me afundo,

este sítio o conheço d'algures

quando, sentado sobre o pão e as semanas,

o vocabulário hostil me provocava.

À procura de um regato, sempre a água,

na paisagem que me quadra à liberdade

de a pintar com os sons que tenho em casa.

Eis o que, em prosa e e frauta

me transporta até ontem a voz suspensa.

 

***

 

antónio barahona

 

*


lido em: Resumo a poesia em 2012

publicado por carlossilva às 10:47
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Sábado, 18 de Maio de 2013
umas coisas atrás de outras

 

umas coisas atrás de outras

fixou na parede a tabuleta e lê-se

proibida a afixação

quem plantou aquela nespereira sabia o que fazia

agora há mais pássaros atrás das nêsperas

muito para além dos frutos alguém

escreveu numa parede do cais do sodré

a fatinha tem sida

aviso enorme

de enormidade

e ali perto outra inscrição

num prédio do corpo santo

paredes brancas povo mudo

 

***

 

abel neves

 

*


lido em: Resumo a poesia em 2012

publicado por carlossilva às 08:21
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Sexta-feira, 17 de Maio de 2013
foi para isso que os poetas foram feitos

 

 

semear tempestades

e assegurarar que cresçam

foi para isso que os poetas foram feitos

 

esgrimir com a mais idónea

das espadas: a coragem

foi para isso que os poetas foram feitos

 

namorar a perfeição

e às vezes alcançá-la

foi para isso que os poetas foram feitos

 

 

***

 

a. m. pires cabral

 

*


lido em: Resumo a poesia em 2012

publicado por carlossilva às 11:27
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Quinta-feira, 16 de Maio de 2013
monocromático verde

 

 

Em ausência de respiração absorvíamos ar com farinha

neve pura

as papas dos pobres de nós

(quando havia açúcar não havia café):

restos das cartilhas de racionamento metidos entre as mós do juízo

final

 

o linho da fome

tão branco

rodeava como um anel de Saturno as paredes do estômago

a fita dos chapéus de palha

 

e afeitos a morrer dia após dia

contemplávamos barro chícharos estrondos demolidores dentro

olhos como maletas nas que o mundo se dava por vencido

 

uma intuição de lágrimas escondidas nas rugas bimilenárias das anciãs

aturdidas e negras

como os seus vestidos de luto da idade do ferro.

Em ausência de amor

um saiote comido pela traça e pelo sol posto a secar na lareira

continha os últimos escritos de Simone de Beauvoir

e o aborto que matou nas profundezas do palheiro

a Benigna de Remígio.

 

Os seus lábios amorados que nunca vi

flutuam no meu pensamento

engancha-se-me o coração

querida toda

nunca correspondida

pasto da eternidade que não há

em ausência de amor.

 

Em ausência de História

escrevíamos em cadernos de lousa que se apagavam com cuspo

e voam formando círculos no observatório de Greenwich

pois em nenhum mapa aparece este nome venenoso

Vilarmao Vilarmao ao pé de nenhum santo padroeiro

na merda da diocese do nada

só há um pátio redondo

a elipse espiritual por onde saem os porcos do cortelho

e um tractor

Lu-Ve 34576 para delimitar o espaço.

 

Em ausência de Saber

a casa da professora jaz como um cadáver exposto à chuva

com as vigas tentando ainda sustentar a tabuada do três

um problema de aritmética que nunca resolvemos

mas há dias em que uma linha recta traçada num quadro negro antigo

resplandece na sua estrutura óssea

e todo o nosso pequeno mundo grunhe pobrezinho ele

como se rezasse um rosário digno da existência de Deus.

 

Em ausência de palavra

abundou-nos o berro denunciador que é a noite do mocho

em ausência de pão

em ausência de leite

em ausência de trigo

contra o dia cabrão que se erguia mais cedo que ninguém.

 

Em ausência de futuro

rangeram as rodas dos carros ou seriam acaso metáforas deterioradas

aves de mau agoiro que ostentam o poder.

O resto dos animais

vomitam sobre os prados

os restolhos de milho com que se criaram

em sinal de dó

sim porque em ausência de futuro

só há ausência

e talvez isto que digo:

 

Em ausência de ti

de tanto morder ervas para conter o espasmo

digo o teu nome até que a língua seque

e fico toda igual a ti antes e depois do tempo

fazendo a fotossíntese do amor

na vanguarda do nada

 

onde só se pode viver pintada como um monocromático verde

 

***

 

olga novo

 

*

 

[vertido para português por BlogNi]


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publicado por carlossilva às 08:02
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