Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2013
sempre quixen volver a 1990

 

sempre quixen volver a 1990

para poñer a barriga ao aire

e pegarlles antenas aos insectos

 

no 1990

non existe o mal tempo

 

hai un sol que loita

e un invernadoiro grande

no que as mandrágoras

aprenderon a cantar

porque non aturan tanto berro

 

a min pásame igual:

adoro ás señoras que

camiñan en voz baixa

e a roupa silenciosa das trandeiras

porque cheira a auga de colonia

 

viaxar no tempo é esquecer

e escribir poesía

para non morrer de frío

 

***

 

ledicia costas

 

*

 

(De Xardín de Inverno. Everest 2012)


lido em: http://asescollaselectivas.blogaliza.org/2012/05/22/ledicia-

publicado por carlossilva às 17:59
link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2013
a poldra do apocalipse

 

Meu doce amor dos três anos

 

vamos brincar aos índios sobre a erva da eira

a falar de Plutão que ainda era um planeta

as minhas pupilas são dois tambores na neve

 

a tua bola gira no espaço melhor que os meteoritos

passam os teus berlindes rugindo por veias coronárias

passam lágrimas rodando como berlindes azuis

quero ir dormir à toca dos grilos

quero ir contigo

 

meu amor dos dez anos

 

sou a menina que assistia ao enterro duma flor na tarde

a que dava o biberão aos cordeirinhos

em garrafas de estrela de Galicia

e aguardava que chegasses

como o melro pousado no último galho do dia

 

meu doce amor dos quinze anos

 

viste-me travestida de corvo descalça sobre montes de gelo

viste-me ceder como a madeira de buxo entre as lições de latim

entre equações de resultado incerto

entre raízes quadradas que davam flor no inverno

ainda me parece dormir enlaçada à tua apendicite

como uma magnólia da noite

 

meu doce amor dos vinte anos

 

vou pelo teu braço como pela clareira dum bosque

a campânula do tempo explode-me na cara

dou um salto mortal para me agarrar à vida

roubo lume nas hortas no canto de uvas negras

perdão se fiz mal   perdão

de baixo das árvores que vão rumo ao subsolo

estou apreendida de memória pela mente de Dioscórides

classificada entre a lavanda e as plantas venenosas

se me vês fico cega

se me falas faz-se-me um eco na garganta

deito-me na tua cicatriz como uma gaze

tudo passa

 

meu doce amor dos trinta anos

 

vou pelo teu braço como por um braço de mar

à aventura

a minha vida é fruto do acaso

entre ruas de limoeiros e canelhas de chuva

entre megálitos absortos e lendas milenárias

sinto que me cantam em babilónia e bretanha

que a poldra do apocalipse me está esperando à porta

 

meu doce amor da idade do ferro

 

entre lanças e sentimentos campaniformes

 

o meu eu vai pelo teu braço como por um traço

inscrito numa tégula de bons augúrios

 

o meu amor vai pela tua mão

como o cão que é

 

meu doce amor dos trinta mil anos

o ar arranha

ulula nesta fissura

sinto que me cantam em babilónia e bretanha

que a poldra do apocalipse me está esperando à porta…

 

enquanto

o meu eu atónito

sobre um banco de peixes sentado

sente ainda talvez a candura

do doce amor dos três anos.

 

***

 

olga novo

 

*

[vertido por BlogNi, Poma Fidiró e Dria]


lido em: Cráter
tags:

publicado por carlossilva às 11:25
link do post | comentar | favorito

Terça-feira, 29 de Janeiro de 2013
amma

 

No pretérito éramos perfeitos.

O Espírito Santo – uma anguiforme mulher incandescente com imensos seios e vários braços com corações
: existências em libações de vinho e mel e afectuosas efervescências líquidas.
Sub-repticiamente dúbios necrotérios alojaram-se nos nossos prédios
e assédios de estranhas pombas brancas
substituíram o sinal do coração pelo sinal da cruz.

Então, inválido de nascença, invadiu o [crédito]. do relógio. das chaves. do carro. da casa. das cruzes de ouro. do ginásio. do crédito – o [crédito].
Imperfeitamente atávicos, voltámos a a-creditar
; alheios aos genes, aos anjos, ao carimbo das Plêiades, à fotossíntese, ao livre arbítrio.
E aprendemos, noutros imóveis, a rezar à medicina imperfeita, não raras vezes,
a [crédito].
Por vezes, porque se paga a pronto, alguns vão às cartas, em vez de irem às putas, mas o Tarot (com todo o respeito) nem sempre nos alcança ou nós a ele…
Mas, que Buda é um jacto de endorfinas, é.

 

***

 

suzana guimaraens

 

*


lido em: paradox.sou

publicado por carlossilva às 08:05
link do post | comentar | favorito

Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2013
uma casa sobre o mar

 

Uma casa sobre o mar
Uma esmola de rubi
- Minha mãe me vai buscar
Tudo aquilo que esqueci

Uma casa sobre a terra
O salário só de um mês
- Minha mãe nas mãos me leva
A ternura que me fez

Uma casa sobre o vento
Um tesouro de maçã
- Minha mãe traz porta dentro
O caroço de amanhã

 

***

 

pedro ludgero

 

*


lido em: http://outlimoabencerragem.blogs.sapo.pt/tag/pedro+ludgero

publicado por carlossilva às 08:47
link do post | comentar | favorito

Domingo, 27 de Janeiro de 2013
engolir lâminas vermelhas não interfere na cor

sussurrei palavras nos ouvidos do vento
para ecoarem nas velas dos barcos perdidos
diziam que engolir lâminas vermelhas não interfere na cor
e
ainda hoje
permanecem à deriva

 

***

 

bruno miguel resende

 

*


lido em: http://bmresende.wordpress.com/page/2/

publicado por carlossilva às 15:35
link do post | comentar | favorito

Sábado, 26 de Janeiro de 2013
leonor

 

A Leonor continua descalça

o que sempre lhe deu certa graça.

 

Pelo menos não cheira a chulé

e tem nuvem de pó sobre o pé.

 

Digam lá se as madames do Alvor

são tão lindas como esta Leonor.

 

Um filhito ranhoso na mão,

uma ideia j´podre no pão.

 

Meia dúzia de sonhos partidos,

a seus pés, como cacos de vidros.

 

Digam lá se as madames do Alvor

são tão lindas como esta Leonor.

 

***

 

antónio cabral

 

*


lido em: http://daliedaqui.blogspot.pt/2012/04/antonio-cabral-poesia.

publicado por carlossilva às 13:23
link do post | comentar | favorito

Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2013
bosques de cuspe

 

a polpa dos bosques anegados sempre é aceda, logo será orballo e cuspe, embaza os muros das fiestras, estona a noite dos espellos acáticos, somerxe os sentidos antes de botar con xustiza as bolsas no lixo, inda quedaron mazás para hoxe, encarnadas nas fazulas apegadas por dentro do cristal, fiquei fóra sen chave, à intemperie, miúdo

 

***

 

x. m. vila ribadomar

 

*


lido em: Fotogramática

publicado por carlossilva às 10:18
link do post | comentar | favorito

Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2013
así doe novembro


así doe novembro
así doen as moas apretadas contra ti, coma un barco,
unha traxedia para un pobo,
ou o recordo dun membro fantasma. doe
porque non te das ido aínda que marcharas,
e non hai bálsamos para o baleiro dun amputado.
nin sequera doses xustificadas de codeína
contestan as miñas mensaxes.
nunca preguntas.
por min. nunca preguntas por min.
así doe a praia na que nos coñecemos.
toda ela cábeme espesa nos petos do abrigo
e entérranse as mans entre as cunchiñas, facéndome cortes.
sabes que sangro polas mañáns?
pequenos cortes invisibles que deixou todo o que vén despois da marea.
así doe novembro,
e máis.
inmenso.
onde o mar rompe contra as rochas
novembro doe inmenso.
ali é onde máis manca
que non che sexa
nin sequera un recordo.

 

***

 

maria lado

 

*


de Nove". María Lado. Edicións Fervenza, 2008.

 


lido em: asmanerasderecogerseelpelo.blogspot.pt

publicado por carlossilva às 08:26
link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2013
os ollos da terra

 

Yeux d’ abyme: brûlants de gloire et d’angoisse-c’est bien vous qui m’aimez? Os ollos da terra observan todo atentamente-Antoine-con brutal e desmedido amor. Coñecen a usura: pan de papel e vellos bebés belicosos. Toman diente de león para olvidar. E calan meu ben: mon homme du bois: bûcheron radioactif que recolles mortos coma quen apaña patacas. Búfalo e resistente. Fodiendo puteos. Mais il n’y a que de terribles morceaux d’amour et tristesse: crueis e ludre por todas partes  e cavernas e porcas hienas de satin e bravos cordeiros azuzando a lumieira por detrás. Infames podres hidras hidráulicas sobre los dioses de Pound flotan en el aire azur. Queiman todo: arrasan la tierra y sus gentes. Pero tu teis algo para min: un cesto de amor e de xustiza. Y no sabes cuánto te lo agradezco.

 

***

 

rosa enríquez

 

*

 

de Desobediencia (Q de Vian cadernos, A Porta Verde, 2011)


lido em: http://asescollaselectivas.blogaliza.org/2012/06/04/rosa-enr

publicado por carlossilva às 16:29
link do post | comentar | favorito

Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2013
laiku

 

o maço do mundo
fendido
em março piais

 

***

 

alberto augusto miranda

 

*


lido em: http://nervoeiro.blogspot.pt

publicado por carlossilva às 08:06
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
agenda
18 de abril 2013 19 de abril 2013
Junho 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
14
15

18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


posts recentes

fogo e água

pára-me de repente o pens...

si digo mar

infância

trapo de voz representa o...

nana para gatos a punto d...

sou uma coluna crematória

dois poemas

nacín vello de máis

uelen

arquivos

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

tags

a m pires cabral(4)

adelia prado(5)

adilia lopes(8)

al berto(6)

alba mendez(4)

albano martins(4)

alberte moman(8)

alberto augusto miranda(9)

alexandre teixeira mendes(11)

alfonso lauzara martinez(8)

alice macedo campos(13)

alicia fernandez rodriguez(5)

almada negreiros(4)

amadeu ferreira(8)

ana luísa amaral(6)

ana marques gastao(4)

andre domingues(5)

andreia carvalho(4)

antonio barahona(5)

antonio cabral(5)

antonio gedeao(5)

antonio ramos rosa(7)

anxos romeo(4)

ary dos santos(5)

augusto gil(4)

augusto massi(4)

aurelino costa(11)

baldo ramos(6)

bruno resende(5)

camila vardarac(9)

carlos drummond de andrade(5)

carlos vinagre(13)

cesario verde(4)

concha rousia(4)

cristina nery(5)

cruz martinez(9)

daniel filipe(5)

daniel maia - pinto rodrigues(4)

david mourão-ferreira(6)

elvira riveiro(8)

emma couceiro(4)

estibaliz espinosa(7)

eugenio de andrade(8)

eva mendez doroxo(8)

fatima vale(10)

fernando assis pacheco(4)

fernando pessoa(5)

fiamma hasse pais brandão(5)

florbela espanca(7)

gastão cruz(5)

helder moura pereira(4)

ines lourenço(6)

iolanda aldrei(4)

jaime rocha(5)

joana espain(10)

joaquim pessoa(4)

jorge sousa braga(6)

jose afonso(5)

jose carlos soares(4)

jose gomes ferreira(4)

jose luis peixoto(4)

jose regio(4)

jose tolentino mendonça(4)

jussara salazar(6)

luis de camoes(5)

luisa villalta(4)

luiza neto jorge(4)

maite dono(5)

manolo pipas(6)

manuel alegre(6)

manuel antonio pina(8)

maria alberta meneres(5)

maria do rosario pedreira(5)

maria estela guedes(7)

maria lado(6)

maria teresa horta(5)

marilia miranda lopes(4)

mario cesariny(5)

mia couto(8)

miguel torga(4)

nuno judice(8)

olga novo(17)

pedro ludgero(7)

pedro mexia(5)

pedro tamen(4)

raquel lanseros(9)

roberta tostes daniel(4)

rosa enriquez(6)

rosa martinez vilas(8)

rosalia de castro(6)

rui pires cabral(5)

sophia mello breyner andressen(7)

suzana guimaraens(5)

sylvia beirute(11)

tiago araujo(5)

valter hugo mae(5)

vasco graça moura(6)

virgilio liquito(5)

x. m. vila ribadomar(6)

yolanda castaño(10)

todas as tags

links
pesquisar
 
blogs SAPO
subscrever feeds
Em destaque no SAPO Blogs
pub