Sábado, 10 de Março de 2012
família


(história do bisneto, polícia, que virou rato)

o bisavô foi preso
por ter cão

o avô foi preso
por não ter cão

e o pai
por não ter gato
com que caçar na falta de cão...

 

***

 

rogério mandlate

 

maputo (moçambique), 1972

 

*


lido em: http://incomunidade.home.sapo.pt/incomunidade_02.htm

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Sexta-feira, 9 de Março de 2012
tres veces chegou a morte

 

Tres vezes chegou a morte ao meu carón

A primeira traias veleño na punta da língua

E a ferida era un beixo que me urxia

 

A primeira

Tambén era un puñal no corazón

Na ría

No centro mesmo do alento

Onde gardo todo o que teño

                o que son

                o que devezo

 

A primeira

Será ao fin un manto mesto de piche

 

Un negar-se as aves

Un vendaval en holocausto de peixes

 

Tres vezes e a morte arrécia

Como sobreviver a esta maré?

 

***

 

paco souto

 

a coruña (galiza), 1962

 

*


lido em: http://incomunidade.home.sapo.pt/Poesia/Paco%20Souto%20-%20T

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Quinta-feira, 8 de Março de 2012
quando as feras montaram

 

Quando as feras montaram

Sobre o resto de velhas origens,

Eu te procurei no meio daqueles

Que primeiro haviam desistido,

Eu te quis vivo,

Transtornado, mas vivo,

E perdi a minha inocência

Ao descobrir, em teu lugar,

Uma aberração que sorria.

O peso de um duro cansaço

Expôs a medida do meu ressentimento,

Eu me desequilibrei,

Estava paralisada de medo.

Uma eternidade se passava

Assim violentamente

E nós a compreendíamos

Na expressão da nossa descrença,

Na fertilidade macabra das bestas,

Na hesitação da nossa paciência.

Nada mais nos distinguia do medo,

Nada justificava a nossa indigência,

Nem o mais grave pecado cometido.

 

***

 

mariana ianelli

 

s. paulo (brasil), 1979

 

*

 


lido em: http://incomunidade.home.sapo.pt/Poesia/Mariana%20Ianelli%20

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Quarta-feira, 7 de Março de 2012
voluntades


 

Lenguas,

estilizadas fugas.

 

Satura el silencio

el gemido

y la golpiza

 

y los gorriones mudos,

ante el asombro,

dan

su golpe de estado.

 

***

 

mariana busso

 

rosário (argentina), 1980

 

*

 

 

 

 

VONTADES


 

Línguas,

estilizadas fugas.

 

Satura o silêncio

o gemido

e a facada

 

e os gorriões mudos,

ante o assombro,

fazem

o seu golpe de estado.

 

*

 

[traducción al portugués: alberto augusto miranda]


lido em: http://incomunidade.home.sapo.pt/Poesia/Mariana%20Busso%20-%

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Terça-feira, 6 de Março de 2012
cuqui


 

cuqui é pequeno de máis para ser un osiño de peluxe

e cáelle o naris

por iso non lle gusta ir á lavadora 

nin que mamá o colgue a secar polas orellas    ademáis

bótame de menos durante o centrifugado          e eu a el

¿e se lle doen? as orellas ¿ e se lle doen as orellas das pinzas?

ou estar só    tanto tempo na trandeira

 

e eu a el

sobre todo hoxe que é luns e ti estás tan lonxe

así que o meto húmido debaixo das sabas e apértoo

para que non chore máis que eu sexa xa grande

que me gusta  porque sei que me quere pequeno

como só poden querer os osiños ós nenos

que lle perdoan ata a dor das pinzas

como sei que ti e eu nos queremos

 

***

 

maria lado

 

*


lido em: http://incomunidade.home.sapo.pt/Poesia/Maria%20Lado%20-%20c

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Segunda-feira, 5 de Março de 2012
v - epistemologias das merdilheiras

"Quero ao meu cavaleiro apertar aos alvos seios, o corpo dou-lho inteiro, cavagalrá as minhas ancas."

cantiga, béatrix de viennois

 

   

    Merdilheiras são tecidos farpados que revestem as exterioridades das madrigueiras fornecendo-lhes as óbvias áreas rupestres de ocorrências multiplicadas de batalhas de rabos de raposas.

   No decorrer das melífluas ingestões rutilantes do vinho as percepções reticulares incandescem felinamente afiadas até à ponta dos bigodes, a indolência embala-se por motricidade emotiva escrevinhada pelas salivas tingidas de uva. O vapor horizontaliza-se por fumeiros regougados. Já as trinchas entrincheiradas entram em autocombustão fazendo rir os farrapos do vinho.

    Da zona exterior uma panóplia de campos de concentração sem centralidade, sem concêntricos.

   Todavia as vagas de manchas cinzentas eram invisíveis ao toque, mas escorriam-se em catadupa pelas vitrinas farpadas. Sem contaminar, mas com existência persistiam no silêncio que se desfaz à crepitação de pedaços de arfagem. Os excrementos das labaredas ejaculam-se pelas chaminés do catarro libertário metamorfoseando-se na massa cinzenta da descerebrização ambulante que se trincha, que se penetra à trincheira da inocorrência, e assim ocorrem como se fossem. Merdilham.

    E vomitam pelos olhos como túmulos negros que falecem todos os dias ao tempo certo de outro relojoeiro que tudo tem excepto a pilha.

   E empilham-se como corpos cénicos de uma guerra que explode dentro de cada transmissão de ordenamento de território sináptico. O terrortório. Lambem os parapeitos suicidados. E sem quebrar.

   Mas na representação madrigueiral as molduras reinventam os moldes. São despimentos de uma pulsão que impulsiona por não se sair. Por não se romper. Por não se aspirar à chaminé. Por desejar o facto de facto.

   E entre a enclausura forçada pela força de desejos cantados à garrafa meia-vazia a aspersão meia-cheia de gorgolejos próprios de quem está a arder. A simetria verde deriva a simetria azul e o cinzento colapsa por não ter desfarpado tecidos. Que caem. Entre salivas temperadas à rutilância vínica.

   As faúlhas atestam a potência da madrigueira. Ascendem segundo o princípio irredutível da gravidade invertida. É a agudeza do gemido timbrado à extasiação pelo suave adorno do corpo moldável a si mesmo. Dizem-se as flores rubras de excrescência incendiária. Até as pálpebras decidirem o rumo final das epistemologias beijadas.

 

***

 

bruno miguel resende

 

*


lido em: falosofia

publicado por carlossilva às 00:20
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Domingo, 4 de Março de 2012
alatropia da dor

 

"é a morte que faz falta à vida"

húmus, raúl brandão

 

 

percorre o corpo que se alonga dourado sobre a cor

púrpura

e resvala no abc de um ismo entontecido

ciclone infante

vadio

um sopro hidrogenado de um não metal amarelo

atravessa a fenda das sinapses

desdobra a brancura no papel e dá conservação ao

vinho

afunda-se na terra como toupeira vulcânica

ave tenra em fotossíntese

 

desregula o passo que desidrata nas salinas

e a curva da casa multiplica-se

no tráfego aéreo arbitrário

no grito aerofágico

o corte das artérias debrua o desespero

oscularia a vista de uma nova paisagem

nua

desavinda

sem memória

imoral

órfica

 

as mãos sonham a lira de apolo

 

o cérbero treme de insónia

sobre um telhado de lágrimas de ferro

 

***

 

fátima vale

 

*


lido em: 'spabilanto

publicado por carlossilva às 03:14
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Sábado, 3 de Março de 2012
contínua cordilheira

 

Música primeiro embalo no útero respiração da água

halos sonoros em movimento puro

júbilo agónico de sangue sistemática

desencadeada medida em lume organizado

movimento de ondas fisionomias longas

oferecem a espuma do sangue em copos de cristal

levanta-te fidelíssimo o ser da orfandade

e em materna cadência vai modelando os soluços

do luto de não ser já o ser no pleno seio

e em miseráveis veios em duras chamas lavra claras pedras

 

***

 

antónio ramos rosa

 

*

 


lido em: Publico

publicado por carlossilva às 12:22
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Sexta-feira, 2 de Março de 2012
amor

 

Amor

No  dejes que el espacio anide en nuestros cuerpos

Ni que la sombra repose en su espesura

No le des al dolor el más mínimo gobierno.

No olvides la inmensidad de nuestro encuentro

Ni la fortaleza que surge de este azar

No permitas que la muerte te engañe con sus juegos

 

***

 

laura c. skerk

vicente lópez (argentina), 1972

 

*

 

 

 

Amor

Não deixes que o espaço aninhe em nossos corpos

Nem que a sombra repouse na sua espessura

Não dês à dor o mínimo mando.

Não esqueças a imensidão do nosso encontro

Nem a fortaleza que surge desse acaso

Não permitas que a morte te engane com os seus jogos

 

*

 

[trad: autora]


lido em: http://incomunidade.home.sapo.pt/incomunidade_02.htm

publicado por carlossilva às 12:01
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Quinta-feira, 1 de Março de 2012
quixera dicir tanto e non digo nada

 

Quixera dicir tanto e non digo nada

Quixiera expresar verbas doces

Andoriñas bulideiras que saíran da minha boca

E non digo nada...

Quixera soltar a mapoula

Que pechada sobrevive

Ao cru inverno

E non digo nada...

Quixera dicir tanto e acabo...

Acabo amando en silencio

Un silencio que cheira a morto

Un silencio sepulcral

Quixera dicirche tanto

Pero acabo...

Acabo calando...

 

***

 

rosanegra

 

*


lido em: dezaoito

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