(história do bisneto, polícia, que virou rato)
o bisavô foi preso
por ter cão
o avô foi preso
por não ter cão
e o pai
por não ter gato
com que caçar na falta de cão...
***
rogério mandlate
maputo (moçambique), 1972
*
Tres vezes chegou a morte ao meu carón
A primeira traias veleño na punta da língua
E a ferida era un beixo que me urxia
A primeira
Tambén era un puñal no corazón
Na ría
No centro mesmo do alento
Onde gardo todo o que teño
o que son
o que devezo
A primeira
Será ao fin un manto mesto de piche
Un negar-se as aves
Un vendaval en holocausto de peixes
Tres vezes e a morte arrécia
Como sobreviver a esta maré?
***
paco souto
a coruña (galiza), 1962
*
Quando as feras montaram
Sobre o resto de velhas origens,
Eu te procurei no meio daqueles
Que primeiro haviam desistido,
Eu te quis vivo,
Transtornado, mas vivo,
E perdi a minha inocência
Ao descobrir, em teu lugar,
Uma aberração que sorria.
O peso de um duro cansaço
Expôs a medida do meu ressentimento,
Eu me desequilibrei,
Estava paralisada de medo.
Uma eternidade se passava
Assim violentamente
E nós a compreendíamos
Na expressão da nossa descrença,
Na fertilidade macabra das bestas,
Na hesitação da nossa paciência.
Nada mais nos distinguia do medo,
Nada justificava a nossa indigência,
Nem o mais grave pecado cometido.
***
mariana ianelli
s. paulo (brasil), 1979
*
Lenguas,
estilizadas fugas.
Satura el silencio
el gemido
y la golpiza
y los gorriones mudos,
ante el asombro,
dan
su golpe de estado.
***
mariana busso
rosário (argentina), 1980
*
VONTADES
Línguas,
estilizadas fugas.
Satura o silêncio
o gemido
e a facada
e os gorriões mudos,
ante o assombro,
fazem
o seu golpe de estado.
*
[traducción al portugués: alberto augusto miranda]
cuqui é pequeno de máis para ser un osiño de peluxe
e cáelle o naris
por iso non lle gusta ir á lavadora
nin que mamá o colgue a secar polas orellas ademáis
bótame de menos durante o centrifugado e eu a el
¿e se lle doen? as orellas ¿ e se lle doen as orellas das pinzas?
ou estar só tanto tempo na trandeira
e eu a el
sobre todo hoxe que é luns e ti estás tan lonxe
así que o meto húmido debaixo das sabas e apértoo
para que non chore máis que eu sexa xa grande
que me gusta porque sei que me quere pequeno
como só poden querer os osiños ós nenos
que lle perdoan ata a dor das pinzas
como sei que ti e eu nos queremos
***
maria lado
*
"Quero ao meu cavaleiro apertar aos alvos seios, o corpo dou-lho inteiro, cavagalrá as minhas ancas."
cantiga, béatrix de viennois
Merdilheiras são tecidos farpados que revestem as exterioridades das madrigueiras fornecendo-lhes as óbvias áreas rupestres de ocorrências multiplicadas de batalhas de rabos de raposas.
No decorrer das melífluas ingestões rutilantes do vinho as percepções reticulares incandescem felinamente afiadas até à ponta dos bigodes, a indolência embala-se por motricidade emotiva escrevinhada pelas salivas tingidas de uva. O vapor horizontaliza-se por fumeiros regougados. Já as trinchas entrincheiradas entram em autocombustão fazendo rir os farrapos do vinho.
Da zona exterior uma panóplia de campos de concentração sem centralidade, sem concêntricos.
Todavia as vagas de manchas cinzentas eram invisíveis ao toque, mas escorriam-se em catadupa pelas vitrinas farpadas. Sem contaminar, mas com existência persistiam no silêncio que se desfaz à crepitação de pedaços de arfagem. Os excrementos das labaredas ejaculam-se pelas chaminés do catarro libertário metamorfoseando-se na massa cinzenta da descerebrização ambulante que se trincha, que se penetra à trincheira da inocorrência, e assim ocorrem como se fossem. Merdilham.
E vomitam pelos olhos como túmulos negros que falecem todos os dias ao tempo certo de outro relojoeiro que tudo tem excepto a pilha.
E empilham-se como corpos cénicos de uma guerra que explode dentro de cada transmissão de ordenamento de território sináptico. O terrortório. Lambem os parapeitos suicidados. E sem quebrar.
Mas na representação madrigueiral as molduras reinventam os moldes. São despimentos de uma pulsão que impulsiona por não se sair. Por não se romper. Por não se aspirar à chaminé. Por desejar o facto de facto.
E entre a enclausura forçada pela força de desejos cantados à garrafa meia-vazia a aspersão meia-cheia de gorgolejos próprios de quem está a arder. A simetria verde deriva a simetria azul e o cinzento colapsa por não ter desfarpado tecidos. Que caem. Entre salivas temperadas à rutilância vínica.
As faúlhas atestam a potência da madrigueira. Ascendem segundo o princípio irredutível da gravidade invertida. É a agudeza do gemido timbrado à extasiação pelo suave adorno do corpo moldável a si mesmo. Dizem-se as flores rubras de excrescência incendiária. Até as pálpebras decidirem o rumo final das epistemologias beijadas.
***
bruno miguel resende
*
"é a morte que faz falta à vida"
húmus, raúl brandão
percorre o corpo que se alonga dourado sobre a cor
púrpura
e resvala no abc de um ismo entontecido
ciclone infante
vadio
um sopro hidrogenado de um não metal amarelo
atravessa a fenda das sinapses
desdobra a brancura no papel e dá conservação ao
vinho
afunda-se na terra como toupeira vulcânica
ave tenra em fotossíntese
desregula o passo que desidrata nas salinas
e a curva da casa multiplica-se
no tráfego aéreo arbitrário
no grito aerofágico
o corte das artérias debrua o desespero
oscularia a vista de uma nova paisagem
nua
desavinda
sem memória
imoral
órfica
as mãos sonham a lira de apolo
o cérbero treme de insónia
sobre um telhado de lágrimas de ferro
***
fátima vale
*
Música primeiro embalo no útero respiração da água
halos sonoros em movimento puro
júbilo agónico de sangue sistemática
desencadeada medida em lume organizado
movimento de ondas fisionomias longas
oferecem a espuma do sangue em copos de cristal
levanta-te fidelíssimo o ser da orfandade
e em materna cadência vai modelando os soluços
do luto de não ser já o ser no pleno seio
e em miseráveis veios em duras chamas lavra claras pedras
***
antónio ramos rosa
*
Amor
No dejes que el espacio anide en nuestros cuerpos
Ni que la sombra repose en su espesura
No le des al dolor el más mínimo gobierno.
No olvides la inmensidad de nuestro encuentro
Ni la fortaleza que surge de este azar
No permitas que la muerte te engañe con sus juegos
***
laura c. skerk
vicente lópez (argentina), 1972
*
Amor
Não deixes que o espaço aninhe em nossos corpos
Nem que a sombra repouse na sua espessura
Não dês à dor o mínimo mando.
Não esqueças a imensidão do nosso encontro
Nem a fortaleza que surge desse acaso
Não permitas que a morte te engane com os seus jogos
*
[trad: autora]
Quixera dicir tanto e non digo nada
Quixiera expresar verbas doces
Andoriñas bulideiras que saíran da minha boca
E non digo nada...
Quixera soltar a mapoula
Que pechada sobrevive
Ao cru inverno
E non digo nada...
Quixera dicir tanto e acabo...
Acabo amando en silencio
Un silencio que cheira a morto
Un silencio sepulcral
Quixera dicirche tanto
Pero acabo...
Acabo calando...
***
rosanegra
*
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