Albisco a noite ao meu carón
Semella un neno xogando
Tirándome do pelo
Coma un fetichemáis
Na fiestra amarela
Reflicte a sombra fantasmal
Que ninguém coñece
Agás a soidade
O coche azul que está
Aparcado na miña memoria
Segue un proceso esperanzador
De loita e medos
A ave do ceo non sabe
O que adormece nas mentes
Duns bípedes monos
En evolución
****
Rosa Martínez Vilas
Armenteira (1974)
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As miñas mentiras parvas,
tra-lo vertixe o nome do engano,
tamén tralo seductor perfume
dunha verba inocente calquera
as altas fendas
E cando menos o esperas
transitar camiños empedrados
na busca do acougo
dalgunha tristeza.
***
Abílio Rodríguez
Viigo - 1974
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no róseo lenzo, acastañado
está apreixada na soidade
do xeométrico labirinto
mediata a un negro burato
que se pendura dunhas nubes violáceas
Suca lutuosa a delimitada atmosfera
O ser séntese afectado de acrofobia
e coida que é un cicindélido
a piques de ser exterminado
***
Cruz Martinez
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o desejo afrontou os passeantes
os tão melancólicos
sorriam para o carro fúnebre
e despiam olhares finos
sobre o féretro
-pomba lúcida num desmesurado cansaço
posando para a eternidade
de encontro ao muro a urina dourada
de um burro
a compasso
o lastro dos santos
incomoda
no cilício do afecto
medra um gato
-sina de presbítero
este condão de adormecer para o mundo
sob o lajedo
um cão cata-se
***
Aurelino Costa
Argivai (Póvoa de Varzim) - 1956
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Ante o corpo devastado indaguei a noite
Sobre as grandes catedrais
Apaziguei a dor
À procura dos sinais funestos
Retomei o que enlouquece
Do céu desceu um clâmide de púrpura
A pedra perene da levitação
A voz do anjo
Se esvai perpassada de ecos
Sombras e dilúvios
***
Alexandre Teixeira Mendes
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gravito uniões à chama claustrofóbica
gradeada desintegração por pulso impulsivo
ventanias opiáceas rarefazem visionárias
trémulas à tepidez
faísca insónia às invisibilidades do cárcere
ente impotente desvanecente de silêncio
estrelas com vultos avultam-se
ganchos naufragam à aridez
por sonâmbula hemorragia
implodido tempo à farpa coloidal
e
confundo lâminas às mangas
gorgolejo por sombras liquefeitas
luminescem vermelhos
inominável penetrado às raízes
adorno por caótica progenitura
porque as lanças lampejam
dóceis formas de morrer
em consequência de infinitude
gravei êxtases em chuviscos
porque se nada no esgoto
e
a delinquência enraivece
laminei horizontais nas nádegas
farpados astros rasgados de céu
adorno ao negro veludo
rasguei estrelas cadentes
e
escorri seivas aos cometas
rendilhada epiderme
massajada pela lápide
***
bruno resende
*************************
A vida, esse livro do ser
Lê-se em silêncio.
Mestre, oficia o rito
Que eu apenas respondo ao salmo,
E no resto
Nem respiro.
O silêncio é uma arma de três gumes
Que usamos diariamente
Para calar amarguras
Ou saltando como pumas:
Cala-te! Porque não te calas?
A vida, esse livro do ser
Lê-se em silêncio.
E a outros, se falam, um punhal
Corta sem hesitar a garganta:
Ou silêncio ou morte!
Não o sabias? Então de que te espantas?
Nada incomoda mais que as ciciantes
Preces, as dos que querem ser lidos
Como revistas de moda,
As dos que sabem tudo, tudo censuram,
A todos desautorizam, em altos gritos de arara.
Cala-te! Porque não te calas, charlatão?
Silêncio, que estou a cantar o fado…
Muito barulho fazeis por coisa de nada
E nada em boa justiça se aplica
Aos que bem mereciam a cadeia.
Nem é a autoridade dos que governam impérios
Com a pressão das armas e do dinheiro
A que mais nos ofende com censura
Sim o seu miniatural espelho
De quem nenhuma obra ousou,
Além de poluir o silêncio com mentira.
À luz da nossa vida pessoal, quem mais nos cala
É quem está mais próximo
Mas esse, porque proclama sem cadeira,
Feitos nem actos,
Por excessiva frioleira, mandemo-lo calar
Pois pouco existe, é só fala-barato.
Abençoados os que se calam
A ouvir.
É preciso sabedoria para reconhecer
Que ignoramos
E que outros no seu dizer
Revelam alguma mestria.
Falem-me em silêncio, na língua da erva
Ou na mais cantarolante dos regatos
E das aves que fazem estrugir as folhas secas
Quando as fêmeas se enamoram
Ao ver as danças dos machos.
A vida, esse livro tremendo,
Representa-se devagar,
Em cenário nocturno
Cortado pelo brilho da lua e pelo
Visionar da coruja.
Mais nada é preciso para tocar o astro
Excepto silêncio e cordura.
***
Maria Estela Guedes
******************************
...e non di nada,
desaparece no límite das palabras.
Para coller o seu pulso de imán,
para capturalo,
é necesario non volver atrás,
esquecer a textura da memoria.
(Os que calan
pintan o silenzo cos dedos,
xogan co impacto que se produce na cabeza
xusto cando todo se revolve nas entrañas)
E cala,
nada di porque nada sabe.
Só escoita,
mira,
pasa as mans
polos bordes da ausenza.
E vaise,
desaparece detrás da brétema,
silandeira.
***
Rosa Enriquez
A Rúa (Galiza)
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Ouve as ondas do mar que explodem em mim.
Escuta a forma como desvanecem, tocando a minha pele.
A escuridão está grávida de luz.
O teu cabelo baloiça junto a mim.
Às vezes és chuva imensa que me dá vida.
Às vezes és a chuva que cai, como o direito que tens.
És assim para mim.
A tua luz toca-me, como se fosse essência cristalina a circular no meu interior.
Essa essência envolve-me na tua ligação comigo.
Se o teu barco respira. Se respira para mim.
Esperarei por ti de coração aberto. O olhar fixo no azul profundo.
Até que o vento te traga até mim.
O desejo traz-te para casa.
***
Sara L. Miranda
(1984)
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