Quarta-feira, 30 de Setembro de 2009
chama-se canção

 

(a comunhão do segredo extímio.)

 

A seiva que sobe meus braços boceja

espera por mim

e fumega de inveja

impõe ao correr o seu próprio fim.

 

Começa, dilata, apressa-me arfante

nã permite o pretérito espaço de estar

é verbo completo e qurm vem que se espante

deste açoite na escala do próprio lugar.

 

sou a têmpora e a temperatura

fenda que no espaço abre e no tempo sutura

 

***

Marta Bernardes

 

**********************************

 

 



publicado por carlossilva às 01:55
link do post | comentar | favorito

Terça-feira, 29 de Setembro de 2009
na pele

 

O mar, venho ver-lhe a pele a rebentar

ao longo das falésias, o que sempre

me traz a exaltação desses rapazes que circulam

por Lisboa no verão.

O mar está-lhes na pele. Partilho

com eles os quartos das pensões, sentindo as ondas

a avançar entre os lençóis. Perco-me à vista

da pedra onde o mar vem largar a pele.

 

 

***

Luís Miguel Nava

 

*****************************

 

 

 



publicado por carlossilva às 02:08
link do post | comentar | favorito

Segunda-feira, 28 de Setembro de 2009
meu amor meu amor

 

Meu amor     meu amor

meu corpo em movimento

minha voz à procura

do seu próprio lamento.

 

Meu limão de amargura     meu punhal a crescer

    nós parámos o tempo    não sabemos morrer.

  e nascemos    nascemos

do nosso entristecer.

 

Meu amor     meu amor

meu pássaro cinzento,

a chorar a lonjura,

do nosso afastamento.

 

  Meu amor     meu amor,

meu nó de sofrimento

minha mó de ternura

minha nau de tormento

este mar não tem cura     este céu não tem ar

    nós parámos o vento     não sabemos nadar

   e morremos     morremos

     devagar     devagar

 

 

***

José Carlos Ary dos Santos

 

*********************************

 

 

 



publicado por carlossilva às 11:29
link do post | comentar | favorito

Domingo, 27 de Setembro de 2009
ternos amadores caminhavam

 

Ternos amadores caminhavam

no caminho que ia dar ao ponto

mais alto da serra, desapareceram

na luz do sol, davam e tiravam

as mãos, vestiam de maneira quase

igual pelo azul do mar, espião

apenas do suspeito? Também os

pássaros, os arbustos um pouco

inclinados ao vento, as conchas

calcinadas, mistura de cheiros

bons. Os espinhos secos cravavam-se

nas pernas, vi o que não vi, a

ofegante respiração, o alegre

final. Distante da ameaça e do

perdão deixem-me entrar nesse jogo,

apenas mais um.

 

***

Helder Moura Pereira

 

**************************************

 

 

 



publicado por carlossilva às 10:55
link do post | comentar | favorito

Sábado, 26 de Setembro de 2009
esta areia fina

 

Não sei

se o que chamam amor é este apaziguamento.

Não sei se comias fogo. Tuas abelhas

voam agora em círculos tranquilos.

Mães serenam seus filhos no ventre,

não sei se o que enfim chamam

amor é esta areia fina.

 

Agora estamos um dentro do outro,

fazemos longas visitas deslumbradas

porque <o nosso prazer lembra um rio vagaroso

no meio de juncos ao cair da tarde>.

 

As palavras tornam-se esquivas. Com o silêncio

falaríamos melhor de tudo isto.

Não sei se o que chamam amor

é a cama desfeita o sol fugindo,

uma vontade louca de beber

a grandes goles a noite entorpecente.

 

Com o silêncio, o silêncio sem nome:

morrermos a meio do filme

simples, calada, dedicadamente.

Eras tu, amor? - Era eu, era eu!

 

Um barco junto à margem. E cegonhas.

 

***

Fernando Assis Pacheco

 

**************************************

 

 



publicado por carlossilva às 13:31
link do post | comentar | favorito

Sexta-feira, 25 de Setembro de 2009
gosto da claridade penumbrosa

 

Gosto da claridade penumbrosa

de adolescentes indecisos.

 

Gosto deles assim lentos

inaptos, vorazes, sedentos

do labor meticuloso e da

antiquíssima sabedoria de outras mãos.

 

Anjos devastados, senhores do caos

é para longe que partem.

O primeiro dos vinhos, bebido

da ânfora para a boca, alerta-os -

 

       regressa agora às palavras e

       aos gestos de antigamente.

 

Cumprem-se no jogo

E ninguém suspeita de nada.

 

***

Eduardo Pitta

 

*************************

 

 



publicado por carlossilva às 04:09
link do post | comentar | favorito

Quinta-feira, 24 de Setembro de 2009
penélope

 

Mais do que sonho: comoção!

Sinto-me tonto, enternecido,

quando, de noite, as minhas mãos

são o teu único vestido.

 

E recompões com essa veste,

que eu, sem saber, tinha tecido,

todo o pudor que desfizeste

como uma teia sem sentido;

todo o pudor que desfizeste

a meu pedido.

 

Mas nesse manto que desfias,

e que depois voltas a pôr,

eu reconheço os melhores dias

do nosso amor.

 

***

 

David Mourão-Ferreira

 

********************************

 



publicado por carlossilva às 09:03
link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 23 de Setembro de 2009
se eu fosse apenas...

 

Se eu fosse apenas uma rosa,

com que prazer me desfolhava,

já que a vida é tão dolorosa

e não te sei dizer mais nada!

 

Se eu fosse apenas água ou vento,

com que prazer me desfaria,

como em teu próprio pensamento

vais desfazendo a minha vida!

 

Perdoa-me causar-te a mágoa

desta humana, amarga demora!

- de ser menos breve do que a água,

mais durável que o vento e a rosa...

 

***

Cecília Meireles

 

*************************

 



publicado por carlossilva às 12:02
link do post | comentar | favorito

Terça-feira, 22 de Setembro de 2009
corto maltese

 

Nada é perfeito como a tua noite

se outro sol nela se levanta

quota parte de treva que anuncia

a traço grosso o rosto claro instante.

 

Olhos febris a boca estremecendo

à simples sugestão da queimadura

movimento subtil age os quadris

do frémito possante que insinua.

 

Barco fundeado no horizonte

movimento do vento que se espanta

se acaso luz feroz evidencia

prata líquida de fuel flagrante.

 

A noite inunda-te. A luz espelha no mar sua moldura

pueril respiração do peito erguendo

zona de sombra onde tudo diz

que antes mesmo da nudez já estavas nua.

 

***

 

Bernardo Pinto de Almeida

? - 1954

******************************

 



publicado por carlossilva às 08:50
link do post | comentar | favorito

Segunda-feira, 21 de Setembro de 2009
uma haste vibrátil

 

Uma haste vibrátil

de junco sensitivo

me lembras, leve e esguia,

com os teus gestos gráceis.

 

Olhas-me, musical,

e o olhar me alivias,

minha doce, subtil

e incessante alvorada.

 

À roda, um prado alastra,

em que se abrem lírios,

tu sopras, feita brisa,

e alguns milhafres pairam.

 

***

Armindo Rodrigues

Lisboa 1904-1993

 

*******************************

 



publicado por carlossilva às 10:57
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
agenda
18 de abril 2013 19 de abril 2013
Junho 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
14
15

18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


posts recentes

fogo e água

pára-me de repente o pens...

si digo mar

infância

trapo de voz representa o...

nana para gatos a punto d...

sou uma coluna crematória

dois poemas

nacín vello de máis

uelen

arquivos

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

tags

a m pires cabral(4)

adelia prado(5)

adilia lopes(8)

al berto(6)

alba mendez(4)

albano martins(4)

alberte moman(8)

alberto augusto miranda(9)

alexandre teixeira mendes(11)

alfonso lauzara martinez(8)

alice macedo campos(13)

alicia fernandez rodriguez(5)

almada negreiros(4)

amadeu ferreira(8)

ana luísa amaral(6)

ana marques gastao(4)

andre domingues(5)

andreia carvalho(4)

antonio barahona(5)

antonio cabral(5)

antonio gedeao(5)

antonio ramos rosa(7)

anxos romeo(4)

ary dos santos(5)

augusto gil(4)

augusto massi(4)

aurelino costa(11)

baldo ramos(6)

bruno resende(5)

camila vardarac(9)

carlos drummond de andrade(5)

carlos vinagre(13)

cesario verde(4)

concha rousia(4)

cristina nery(5)

cruz martinez(9)

daniel filipe(5)

daniel maia - pinto rodrigues(4)

david mourão-ferreira(6)

elvira riveiro(8)

emma couceiro(4)

estibaliz espinosa(7)

eugenio de andrade(8)

eva mendez doroxo(8)

fatima vale(10)

fernando assis pacheco(4)

fernando pessoa(5)

fiamma hasse pais brandão(5)

florbela espanca(7)

gastão cruz(5)

helder moura pereira(4)

ines lourenço(6)

iolanda aldrei(4)

jaime rocha(5)

joana espain(10)

joaquim pessoa(4)

jorge sousa braga(6)

jose afonso(5)

jose carlos soares(4)

jose gomes ferreira(4)

jose luis peixoto(4)

jose regio(4)

jose tolentino mendonça(4)

jussara salazar(6)

luis de camoes(5)

luisa villalta(4)

luiza neto jorge(4)

maite dono(5)

manolo pipas(6)

manuel alegre(6)

manuel antonio pina(8)

maria alberta meneres(5)

maria do rosario pedreira(5)

maria estela guedes(7)

maria lado(6)

maria teresa horta(5)

marilia miranda lopes(4)

mario cesariny(5)

mia couto(8)

miguel torga(4)

nuno judice(8)

olga novo(17)

pedro ludgero(7)

pedro mexia(5)

pedro tamen(4)

raquel lanseros(9)

roberta tostes daniel(4)

rosa enriquez(6)

rosa martinez vilas(8)

rosalia de castro(6)

rui pires cabral(5)

sophia mello breyner andressen(7)

suzana guimaraens(5)

sylvia beirute(11)

tiago araujo(5)

valter hugo mae(5)

vasco graça moura(6)

virgilio liquito(5)

x. m. vila ribadomar(6)

yolanda castaño(10)

todas as tags

links
pesquisar
 
blogs SAPO
subscrever feeds
Em destaque no SAPO Blogs
pub