(a comunhão do segredo extímio.)
A seiva que sobe meus braços boceja
espera por mim
e fumega de inveja
impõe ao correr o seu próprio fim.
Começa, dilata, apressa-me arfante
nã permite o pretérito espaço de estar
é verbo completo e qurm vem que se espante
deste açoite na escala do próprio lugar.
sou a têmpora e a temperatura
fenda que no espaço abre e no tempo sutura
***
Marta Bernardes
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O mar, venho ver-lhe a pele a rebentar
ao longo das falésias, o que sempre
me traz a exaltação desses rapazes que circulam
por Lisboa no verão.
O mar está-lhes na pele. Partilho
com eles os quartos das pensões, sentindo as ondas
a avançar entre os lençóis. Perco-me à vista
da pedra onde o mar vem largar a pele.
***
Luís Miguel Nava
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Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a crescer
nós parámos o tempo não sabemos morrer.
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
meu pássaro cinzento,
a chorar a lonjura,
do nosso afastamento.
Meu amor meu amor,
meu nó de sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar
***
José Carlos Ary dos Santos
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Ternos amadores caminhavam
no caminho que ia dar ao ponto
mais alto da serra, desapareceram
na luz do sol, davam e tiravam
as mãos, vestiam de maneira quase
igual pelo azul do mar, espião
apenas do suspeito? Também os
pássaros, os arbustos um pouco
inclinados ao vento, as conchas
calcinadas, mistura de cheiros
bons. Os espinhos secos cravavam-se
nas pernas, vi o que não vi, a
ofegante respiração, o alegre
final. Distante da ameaça e do
perdão deixem-me entrar nesse jogo,
apenas mais um.
***
Helder Moura Pereira
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Não sei
se o que chamam amor é este apaziguamento.
Não sei se comias fogo. Tuas abelhas
voam agora em círculos tranquilos.
Mães serenam seus filhos no ventre,
não sei se o que enfim chamam
amor é esta areia fina.
Agora estamos um dentro do outro,
fazemos longas visitas deslumbradas
porque <o nosso prazer lembra um rio vagaroso
no meio de juncos ao cair da tarde>.
As palavras tornam-se esquivas. Com o silêncio
falaríamos melhor de tudo isto.
Não sei se o que chamam amor
é a cama desfeita o sol fugindo,
uma vontade louca de beber
a grandes goles a noite entorpecente.
Com o silêncio, o silêncio sem nome:
morrermos a meio do filme
simples, calada, dedicadamente.
Eras tu, amor? - Era eu, era eu!
Um barco junto à margem. E cegonhas.
***
Fernando Assis Pacheco
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Gosto da claridade penumbrosa
de adolescentes indecisos.
Gosto deles assim lentos
inaptos, vorazes, sedentos
do labor meticuloso e da
antiquíssima sabedoria de outras mãos.
Anjos devastados, senhores do caos
é para longe que partem.
O primeiro dos vinhos, bebido
da ânfora para a boca, alerta-os -
regressa agora às palavras e
aos gestos de antigamente.
Cumprem-se no jogo
E ninguém suspeita de nada.
***
Eduardo Pitta
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Mais do que sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.
E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.
Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.
***
David Mourão-Ferreira
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Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!
Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!
Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
- de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...
***
Cecília Meireles
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Nada é perfeito como a tua noite
se outro sol nela se levanta
quota parte de treva que anuncia
a traço grosso o rosto claro instante.
Olhos febris a boca estremecendo
à simples sugestão da queimadura
movimento subtil age os quadris
do frémito possante que insinua.
Barco fundeado no horizonte
movimento do vento que se espanta
se acaso luz feroz evidencia
prata líquida de fuel flagrante.
A noite inunda-te. A luz espelha no mar sua moldura
pueril respiração do peito erguendo
zona de sombra onde tudo diz
que antes mesmo da nudez já estavas nua.
***
Bernardo Pinto de Almeida
? - 1954
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Uma haste vibrátil
de junco sensitivo
me lembras, leve e esguia,
com os teus gestos gráceis.
Olhas-me, musical,
e o olhar me alivias,
minha doce, subtil
e incessante alvorada.
À roda, um prado alastra,
em que se abrem lírios,
tu sopras, feita brisa,
e alguns milhafres pairam.
***
Armindo Rodrigues
Lisboa 1904-1993
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